Psicólogos britânicos estão sendo orientados a considerar a
adolescência como o período que vai até os 25 anos de idade. Li essa manchete há alguns meses
na BBC e achei plausível. Não sei bem o que “adolescência” quer dizer, mas é
confortável tê-la como respaldo para justificar algumas atitudes. Talvez por
isso eu tenha lamentado estar fora dessa definição, mesmo com a extensão dos
limites.
Para a psicologia, mesmo a britânica, eu sou adulta. E
também não sei direito o que isso quer dizer. Mais responsabilidades? Com certeza.
Mais liberdade? Acho que sim. Mas tem confusões e indefinições que não vão
embora com a adolescência. E eu começo a desconfiar que elas vão me acompanhar
sempre – com alguma alteração na escala de importância.
Há 10 anos uma espinha tinha o dom de acabar com um fim de
semana. As espinhas continuam (se isso for sinal de puberdade, serei uma eterna
adolescente), mas a gente aprende que a maquiagem certa pode fazer milagres.
Com
o tempo, a gente também se dá conta que nunca foi TÃO gorda como achava que
era, que o Henrique da 7ª A não era o cara mais lindo do mundo e que
adolescentes são realmente muito dramáticos.
Mas, e quando, no meio dessa reflexão toda, você ainda se
identifica com aquela menina de 16 anos? Ou se depara com arrependimentos e
frustrações de 10 anos atrás?
A diferença é que as expectativas mudam. As pessoas mudam. Você
muda. Por mais que o cenário seja o mesmo e as situações parecidas.
Isso pode ser assustador.
É uma espécie de epifania. De repente você se dá conta que o
tempo passou e toda aquela fantasia idealizada na adolescência continua no imaginário.
É nessa hora que triunfa a adolescente que se esconde atrás da sua cara de
mulher madura. Ela assume o controle por cinco minutos pra te lembrar tudo que para
ela seria, e para você não foi.
A mulher madura jura que superou. E é estranho, porque
parece ter superado mesmo. Ela não sofre. Mas a adolescente acha tudo aquilo
muito esquisito. “Não era pra gente
estar fazendo planos de como será da próxima vez, na próxima chance?”
Arrependimentos não doem quando se é adolescente porque a
gente tem a certeza que vai dar tempo de consertar.
A adolescente acha que tem todo tempo do mundo, todas as
oportunidades do mundo, o mundo. Mas a mulher adulta sabe que não é bem assim.
O tempo passa, as oportunidades também. E o mundo... ah! O mundo é muito
grande, é muita ousadia querer tê-lo inteiro.
A adolescente se frustra com esse realismo frio. Acha
estranho não ter aquela excitação, aquela ansiedade que deixava o cotidiano
mais colorido, que dava ânimo para ler as páginas chatas do meio do livro,
tendo a certeza de que o final seria surpreendentemente positivo.
Mas, a mulher adulta já leu esse livro inteiro. Releu. Leu
outros bem parecidos nesses 10 anos. Ela sabe que, as vezes, um livro chato é
chato mesmo, inclusive o final. Ela se frustrou várias vezes com finais insossos,
tristes, previsíveis. E lembra a adolescente que o “viveram felizes para sempre”
é coisa de contos de fadas, aqueles que ela deixou de acreditar quando virou
adolescente.
A mulher adulta é chata. Controladora. Não perde uma
oportunidade de jogar na cara da adolescente como ela é ingênua. A adolescente
é sonhadora, romântica, esperançosa e aprendeu, com a criança, que finais
felizes podem existir sim – ainda que sejam necessárias algumas adaptações.
É essa adolescente que está achando muito estranha essa vida
cheia de números, compromissos, responsabilidades e com pouco sonho. Aquele
mesma sensação de quando sumiram as barbies, os cadernos de colorir e os álbuns
de figurinha.
A vida adulta não deixa espaço para tardes livres, com
canecas de leite condensado com nescau, ouvindo Nirvana ou vendo filme bobo no
sofá. Eram nessas tardes que os sonhos cresciam. Eram nessas tardes que a adolescente
vislumbrava o futuro, cheio de emoções e de encontros românticos depois da aula
de inglês.
Agora, a caneca de leite condensado é calórica demais, Came
as you are não faz mais “aquele” sentido, não dá mais tempo de assistir o
filme bobo na TV e ela terminou o curso de inglês.
“Então, quando é que a gente sonha na vida adulta?”
Não sei se quem fez essa pergunta foi a adolescente, a
mulher ou a criança que, dormindo há algum tempo, acordou no meio da conversa e
ficou preocupada ao perceber aquele cenário sem lápis de cor.