Eu decidi que faria jornalismo porque queria ser roteirista de HQ. E, nos devaneios juvenis, imaginava que era uma profissão que me permitiria trabalhar de casa. Um computador, uma ideia e pronto! Sem escritório, sem paredes, sem horário fixo.
Bom, o jornalismo venceu a HQ e os fatos exigem que a gente os acompanhe onde eles estiverem. Então, home office nunca rolou.
Até ontem.
Circunstâncias completamente diferentes das lá atrás imaginadas concretizaram o home office.
O coronavírus nos trancou em casa e a rotina deu uma guinada.
Começou com as creches - fechadas. Bebê sem ter com quem ficar.
Surto #1.
Cancelamento de eventos, de shows, de aglomerações. Bibliotecas, museus, academias fechados.
Evitem circular.
Quem puder, fique em casa.
Surto #2.
-----
Estamos em casa. Eu, o bebê, os legos, as fraldas, o álcool em gel, o wi-fi, os celulares, os grupos de Whatsapp que não param, a checagem de e-mail, a louça crescendo na pia, o "não pode brincar aqui, filho, mamãe tá trabalhando", a roupa de molho no balde, o soro fisiológico, a lista de supermercado, a cama desarrumada, a xícara de café ao lado dos pratos de papinha sujos... o dia que parece não acabar.
No nosso primeiro dia de home office, MM não dormiu. Jornada de 7h30 às 20h30. Com algumas crises no caminho, um incisivo rasgando a gengiva, a curiosidade peculiar, o treino dos passos cambaleantes, o "mamá", a inocência bonita de quem não faz ideia do caos. E a impaciência de quem não faz ideia do caos - e quer tudo AGORA.
Nesse primeiro dia não coloquei a cara na rua. "Isolamento social é isso", tento me consolar. Mas, a memória mais recente é a daquele puerpério inicial - quem viveu, sabe.
Subiu um frio na espinha.
Trabalhar em casa é trabalhar o tempo todo, mesmo quando não está trabalhando, e ter a sensação de que deixou coisas por fazer. Quem tem dupla (tripla) jornada, sabe. Só que, em isolamento a gente nem tira o pijama, nem troca ideia com os colegas, nem pensa mal do cara que pega o elevador pra subir do térreo pra sobreloja. Não tem esse tipo de passatempo.
Desgastante. Ainda mais pela indefinição. O que mais vai fechar? Quanto tempo vai durar?
Junto com a rotina, é preciso rearranjar os hábitos, a mente, a firmeza de espírito.
Teste de coletividade.
Tomara que a gente passe.
E que a pandemia também. Que passe.
quinta-feira, 19 de março de 2020
sexta-feira, 6 de março de 2020
As vidas em compasso
Esta semana reencontrei uma velha conhecida. Fazia... mais de um ano (quase dois!) que a gente não se via.
A gente saiu, dançou, tomou cerveja, ouviu boa música.... A gente se divertiu!
Eu estava com saudade dela e nem sabia.
Não vou mentir e dizer que não foi estranho. Foi um pouco.
Esses quase dois anos em que estivemos afastadas foram bem transformadores. Eu mudei. Ela... também mudou. Mas, a essência ainda estava lá.
Foi ela que nos reconectou. E também a música - essa danada, poderosa que nos leva a lugares e traz memórias à tona.
Um hit de 2003 que não saia da minha playlist. Sim... 17 anos atrás. Foi pra lá que essa música me levou.
Daí, reencontrei também uma adolescente de 16 anos. Cheia de planos, bastante confusa, com problemas de aceitação e dificuldade de autoamor. Mas, com muita disposição. E muitos sonhos.
A gente lembrou dos medos, de como os vencemos, dos desafios, dos planos da época... e de como a vida se encarregou de fazer tudo diferente.
E de como está tudo bem.
Choramos juntas: eu, a adolescente e a companheira de dois anos atrás.
Somos uma só.
A vida vai transformando a gente. Para o bem de todos, a gente amadurece. Mas, cada uma delas ainda está lá. Com a sua devida importância, num espaço-tempo diferente, mas lá. E, quando nos encontramos conscientemente algumas curas acontecem.
O autoamor meio enterrado na adolescente, floresceu na companheira de dois anos atrás. E ela voltou para me lembrar que é assim que a vida faz.... Que o caminho nos ensina e nos fortalece. E que os desafios trazem lições que a gente só vai entender depois. Tem tempo, espaço e lugar para tudo.
Esta semana, durante uma hora e meia, a gente coube, as três, no mesmo lugar, espaço e tempo. Foi importante para entender algumas coisas, relembrar outras e estar desperta para as próximas.
O bonito é que esse reencontro aconteceu após exato um ano da maternidade. A primeira "balada" pós-parto. Balada porque qualquer saída sozinha, mães sabem, vira balada.
Literalmente, uma celebração!
Literalmente, uma celebração!
terça-feira, 3 de março de 2020
Pobre travesseiro
Acordei com dor no pescoço e nos braços. Não daquelas costumeiras, de dias e dias corridos e tensos e cheios de sobrecargas. Era consequência da sequência de socos que eu dei no travesseiro na noite anterior.
Não sei quantos foram. Não contei. Foram os necessários.
Antes do travesseiro eu tentei a parede.
Mas, talvez eu quebrasse o punho.
Era muita raiva.
De quê?
De tanta coisa... De gente. De situações. De não conseguir sair dessas situações...
Virou físico. A raiva era palpável. Eu precisava me livrar dela. Chorar já não adiantava mais.
Aliás, eu sentia raiva até de tanto chorar.
Os socos ajudaram por alguns minutos. Foi cansativo. Os socos e todo o processo que me levou até eles.
De onde vinha?
Como parei nesse lugar?
Levou um tempo - semanas - até eu entender. A raiva era de mim.
De me trair. De me desrespeitar. De me ferir. De não manter o combinado que fiz comigo mesma.
De ignorar a voz que fala quando a mente silencia.
E por que faço isso?
Por que acumulamos tanto? Por que carregamos tanto? Por que naturalizar essas dores - as nossas, as das nossas mães, avós e acenstrais?
Tem que parar. Em alguém isso tem que parar.
Que seja aqui!
O processo é dolorido. Pra se livrar do que pesa, machuca e sufoca tem que reconher os pesos, os machucados, o sufocamento.
Nada disso é confortável.
E muitas vezes nos perdemos nesse redemoinho.
Para, soca o travesseiro e se reacomoda. Olha pra tudo de novo. Sente tudo com honestidade. Acolha-se. E siga.
Um mantra.
Estou na fase do "olhar tudo de novo".
As etapas se interpolam, os caminhos se cruzam e às vezes voltamos pro ponto de partida. O importante é ter o mapa no bolso pra dar uma olhada quando estiver muito perdida.
Qual é o seu mapa?
Recomeçar.
Primeiro por dentro. Depois coloca a bagunça do lado de fora em ordem.
E compra uma luva de boxe.
Não sei quantos foram. Não contei. Foram os necessários.
Antes do travesseiro eu tentei a parede.
Mas, talvez eu quebrasse o punho.
Era muita raiva.
De quê?
De tanta coisa... De gente. De situações. De não conseguir sair dessas situações...
Virou físico. A raiva era palpável. Eu precisava me livrar dela. Chorar já não adiantava mais.
Aliás, eu sentia raiva até de tanto chorar.
Os socos ajudaram por alguns minutos. Foi cansativo. Os socos e todo o processo que me levou até eles.
De onde vinha?
Como parei nesse lugar?
Levou um tempo - semanas - até eu entender. A raiva era de mim.
De me trair. De me desrespeitar. De me ferir. De não manter o combinado que fiz comigo mesma.
De ignorar a voz que fala quando a mente silencia.
E por que faço isso?
Por que acumulamos tanto? Por que carregamos tanto? Por que naturalizar essas dores - as nossas, as das nossas mães, avós e acenstrais?
Tem que parar. Em alguém isso tem que parar.
Que seja aqui!
O processo é dolorido. Pra se livrar do que pesa, machuca e sufoca tem que reconher os pesos, os machucados, o sufocamento.
Nada disso é confortável.
E muitas vezes nos perdemos nesse redemoinho.
Para, soca o travesseiro e se reacomoda. Olha pra tudo de novo. Sente tudo com honestidade. Acolha-se. E siga.
Um mantra.
Estou na fase do "olhar tudo de novo".
As etapas se interpolam, os caminhos se cruzam e às vezes voltamos pro ponto de partida. O importante é ter o mapa no bolso pra dar uma olhada quando estiver muito perdida.
Qual é o seu mapa?
Recomeçar.
Primeiro por dentro. Depois coloca a bagunça do lado de fora em ordem.
E compra uma luva de boxe.
Assinar:
Postagens (Atom)