Gertrudes não é diferente de ninguém. Quer dizer, é um pouco, mas em alguns aspectos a vida dela é bem comum. Por exemplo, a família cobra dela o que toda família cobra de uma menina jovem: um namorado.
Antes as tias, primas mais velhas e a avó ficavam em polvorosa pra saber sobre a menstruação. “E aí, ela já ficou mocinha?” A pergunta era pra mãe e em tom de cochicho, mas Gertrudes sempre ouvia e queria se enterrar no chão de tanta vergonha.
Quando finalmente Gertrudes conheceu os “prazeres” da TPM, a família estava ansiosa pelo primeiro beijo. “Você ainda é BV né, minha filha?” – porque sempre tem uma tia descolada que acha que falar no mesmo linguajar que os pré-adolescentes aproxima e facilita a comunicação.
Não. Não facilita.
Não. Não facilita.
Mas, sim! Gertrudes era BV. No entanto, nunca admitia. Nem negava. Deixava no ar. O que era o mesmo que dizer: “Eu nunca beijei, mas tô louca de vontade e morro de medo de alguém descobrir isso!”
Só que, na época, Gertrudes achava que era a melhor opção. E achava que estava conseguindo disfarçar.
Só que, na época, Gertrudes achava que era a melhor opção. E achava que estava conseguindo disfarçar.
É porque Gertrudes foi a última da galera a beijar. Demorou! E quando finalmente aconteceu, ela sentiu como se tivesse se livrado de um peso. “Agora eu posso responder a pergunta - Claro que não sou BV, eu tenho 16 anos, já beijei muito!”
Mal sabia ela que as cobranças nem tinham começado.
Ainda tinha o vestibular, a carteira de motorista e, a perseguição que continua: o namorado.
“Mas e os namorados?”
NamoradoS! No plural!
Não gente, não tá fácil pra ninguém! Gertrudes está se esforçando pra conseguir UM. E já tá mais que suficiente!
Gertrudes: Então vô... eu não tenho namorado.
Avô de Gertrudes: Mas nenhum?
Gertrudes: Não, vô! Nenhum!
Avô de Gertrudes: Mas nem na faculdade?
Avô de Gertrudes: Mas nenhum?
Gertrudes: Não, vô! Nenhum!
Avô de Gertrudes: Mas nem na faculdade?
Em outras palavras e de maneira sutil, o avô de Gertrudes quer dizer que é um absurdo a pessoa ser jovem, se relacionar com várias pessoas na faculdade e não ter um namorado.
Gertrudes concorda! Mas, vai fazer o quê? Ela também não tem explicação.
Gertrudes: Não, vô! Nem na faculdade!
Avó de Gertrudes: Tá certa, minha filha! Tem que estudar primeiro. Moça só pode casar depois de formar!
Avó de Gertrudes: Tá certa, minha filha! Tem que estudar primeiro. Moça só pode casar depois de formar!
Porque a avó de Gertrudes sentiu o drama e tentou dar uma força. O problema é que ela só adiou a cobrança. Porque agora Gertrudes se formou e, segundo as convenções sociais, já pode se casar.
“E os namorados, Gertrudes?”
Continua no plural!
Mas, Gertrudes entende a preocupação da família. Porque ela também está começando a ficar preocupada. Ela começa a se perguntar, “cadê os namorados, Gertrudes? Por onde eles andam?”
E quando se tem primas e irmãs mais ou menos da mesma idade, a cobrança vem de forma comparativa. Porque, só falta você!
E aí que a família de Gertrudes resolveu desencanar! Uma parte acredita que é por opção, outra deve achar que ela tem mesmo algum problema e não vai namorar nunca.
Até eu acho que Gertrudes tem algum problema e não vai namorar nunca. Mas, não precisa dizer isso na cara dela!
Porque enquanto a avó se orgulha de contar como a irmã de Gertrudes é sagaz e disputada pelos menininhos da cidade, tenta consolar Gertrudes:
Avó de Gertrudes: Você não, né minha filha? Você não mexe com isso!
“Olha vó, eu juro que eu tento mexer com isso! Mas eles é que não querem mexer comigo” – pensou Gertrudes ao sorrir carinhosamente e concluir que mais que uma necessidade afetiva, o namorado é quase um atestado social. Ela só sabe não ainda o que quer atestar.
Ainda bem que minha avó não é assim!