Gertrudes mudou bastante nesses últimos tempos. Mais
precisamente nos últimos dois anos.
Ela descobriu que tem mais coragem do que imaginava, que o mundo não é apenas uma bolha recheada de pautas, que o horizonte não tem fim e que as coisas têm as cores e o peso que você dá.
Ela descobriu que tem mais coragem do que imaginava, que o mundo não é apenas uma bolha recheada de pautas, que o horizonte não tem fim e que as coisas têm as cores e o peso que você dá.
Gertrudes sabe de tudo isso. Mas, as vezes esquece. É que o
mundo é bem louco, gira rápido e te consome se você deixar. De repente, as costas
doem, a gastrite grita e você entra na bolha de novo – onde existem apenas pautas
e putos.
Nessa bolha também tem cappuccino, e Gertrudes cai na armadilha
de achar que essa é compensação da vida. Mas, a xícara sempre acaba, Gertrudes.
Enquanto a compensação estiver do lado de fora, não vai
compensar.
O café acaba.
O vinho dá dor de estômago – e é caro.
Os amigos casam. Mudam-se. Mudam.
Os namorados também buscam as próprias compensações.
O esquema, Gertrudes, é achar essa libertação do lado de dentro.
Tirar o peso. Colorir.
Por mais estranho que sejam os tempos que vivemos. Por mais
escroto que tenha sido este ano. Por mais que as perdas tenham deixado
arranhões. Por mais que a realidade faça questão de jogar Merthiolate (aquele de
1990, que arde!) nesses arranhões. Por mais que seja grande a vontade de
desistir.
Como desiste?
Não desiste, Gertrudes! Você pode parar, dar um tempo, se
esconder numa marquise enquanto a chuva passa. Aproveitar um fim de semana –
aqueles raros que você tem folga – e fazer um casulo de edredom. Isso pode.
Mas, a segunda-feira sempre chega.
Chegou já.
Tem que levantar. E pode tomar um café. Bem forte. E
escrever também, se ajudar.
A chuva não parou. Ainda está chuviscando. Você vai se
molhar um pouco. Os arranhões também vão arder, para te lembrar que estão ali.
Mas, daqui a pouco cria a casquinha e você pode cair de novo. Machucar outros
lugares. Ou, os mesmos. Acontece também.
Fura a bolha, Gertrudes! O horizonte não acaba, lembra? Você
já passou por essa lição, não repete de ano não. Segue em frente, tem outros
desafios para superar.
Pega todas as cartilhas antigas e joga fora, você vai
precisar de espaço para as novas.
Deixa Saturno girar.
Isso, Gertrudes! É assim que se fala. E se escreve.
ResponderExcluirO mundo ensina todo dia, aprender é facultativo.
Facultemos.
Me identifiquei muito com esse, Ca-roool! Amei ❤ como todos!!
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