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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Separação

Contando os nove meses da gestação mais os quase sete meses de vida do meu filho, estamos juntos a um ano e quatro meses. 480 dias de um dormir e acordar quase que devotado a um serzinho que vira nossa prioridade desde que era um amontoado de células em expansão.

Um relacionamento íntimo, simbiótico. Nos leva à exaustão, mas nos apresenta a sentimentos lindos, antes desconhecidos, em intensidade colossal. 

Você está mergulhada nesse novo universo quando, de repente, não mais que de repente, a licença maternidade acaba. Você acorda um dia e tem que deixar seu filho, aquele pedacinho que está grudado em você há 480 dias, com outra pessoa.

Pode ser o pai, a avó, a babá, a tia da creche, a mulher maravilha. Não é você.

Não é você que vai acalentar quando ele chorar.
Não é você que vai fazer ele dormir o soninho da tarde.
Não é pra você que ele vai dar risadinha quando entrar na banheira todo satisfeito.

Pode ser alguém que vai fazer tudo isso melhor que você. Mas, não vai ser você.

É ótimo voltar ao trabalho. Ter que se concentrar em outra coisa, falar com outros adultos sobre temas que não sejam pomada para assadura ou programação do CineMaterna. 

Mas, também é péssimo - eis mais um paradoxo do maternar.

É como se te arrancassem um braço e dissessem: fica tranquila, ele está sendo bem cuidado, pode ir em paz.

É um pedaço de mim. Não dá pra "ir em paz".

Pode ser drama de mãe leonina, pode ser inexperiência de mãe de primeira viagem, pode ser exagero de quem sofre por antecipação. Mas, tá doendo. 

Mais que o parto.

Dá medo de perder momentos importantes. Essas criaturas fazem descobertas a cada minuto - e estar ausente 8 horas todos dos dias é perder descoberta demais.

Dá medo dele se sentir abandonado.

Dá medo da gente não caber mais no trabalho - assim como não cabe na calça que usava pra trabalhar. (assim como não cabe em um monte de outros lugares).

Dá medo de voltar pra casa e ele não te querer mais. (assim como não te querem em um monte de outros lugares).

[Sim, tem restaurante em Brasília que é pet friendly, mas não tem trocador no banheiro].

Falta uma semana para a grande separação.

Enquanto eu me perco entre meditações para manter o eixo e dúvidas sobre quanto de leite deixar congelado, MM dorme sem nem imaginar o que nos aguarda.

Talvez tudo seja surpreendentemente mais simples. Talvez tudo mude para muito melhor.

Talvez eu doe todas as minhas roupas antigas e faça um armário cápsula minimalista.

Talvez eu consiga voltar a malhar.

E eu deveria estar dormindo.

É assim que funciona uma mente prestes a colapsar?

Melhor parar por hoje.














Um comentário:

  1. Dói mesmo, muito. Muito mesmo. E é algo que você aprende a conviver pq nao tem remédio... No mais, que é muito reconfortante, tudo se encaixa mesmo. E a cada segunda-feira, renova o frio na barriga ao deixá-lo, mais do que nos outros dias, pq a vida te empurra pra fazer o que precisa fazer que algumas questões deixam de ser questões... E os momentos com eles ficarão mais qualificados, rsrsrssrs e vida que segue amiga. Você vai tirar de letra. <3

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