Páginas

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Conexão natureza

 Depois de 118 dias, choveu em Brasília. Foram dois dias de céu cinza, ventos cortantes, temperaturas baixas, dias escuros – bem no começo da primavera.

Foram dois dias de ansiedade, “não aguento mais essa pandemia!”, melancolia e saudades.

Metade do vidrinho de óleo essencial de bergamota com cedros atlas foi embora em 48 horas.

A gente está muito mais conectada à natureza do que parece.

Depois, volta o sol. Onda de calor. Tempo seco. Difícil respirar. E a energia, solar!

MM despertou às 5:58. O céu estava claro – o sol nasceu cedo.

Antes da 7:00 eu já tinha dado o café da manhã da cria, lavado uma máquina de roupa, limpado a casa (sim, é um apê pequeno, mas não diminua o meu trabalho) E gritado com MM que resolveu que queria colo durante o meu coco matinal. Invadiu o banheiro, com o copo de vitamina na mão e nem aí para o fato de a mãe estar sentada na privada.

Não ria.
Eu chorei.

Às 9:00 eu já estava exausta. E acabou o gás. Nem deu para passar mais café.

Sol a pino lá fora. Temperatura borbulhando aqui dentro.

A gente está muito mais conectada à natureza do que parece.

Meio dia. Ainda falta metade!

A cabeça denuncia: umidade abaixo dos 20% e você não tomou nem um copo d’água. Logo você!

Pois é tanta coisa eu que fazia e não cabe mais no dia. Mesmo começando antes das seis da matina.

Tem dias que são secos demais. Lá fora e aqui dentro.

As culturas africanas reconhecem o parentesco entre a vida humana e a natureza. A premissa é buscar a convivência harmoniosa, em comunhão com ela.

E isso não é possível sem respeito. Aos ciclos, ao tempo, ao semear e ao florir. Respeitar a chuva, os ventos, as marés. Respeitar lá fora e respeitar aqui dentro.

Se é de chuva, deixa chover. Se é de troca, deixa a folha seca cair. Não precisa dominar nem consertar a natureza. Somente apreciar e respeitar. Viver os ciclos.

Lá fora e aqui dentro.

A gente está muito mais conectada à natureza do que parece.

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Abandono

1. ato ou efeito de sair sem intenção de voltar

2. falta de amparou ou de assistência

Essa é a definição linguística de abandono.

Todo mundo conhece. Como sujeito ativo ou passivo. Às vezes, os dois ao mesmo tempo.

Você já foi esquecido na escola? Ninguém apareceu na apresentação do Dias dos Pais? Sua mãe faltou àquela luta importante de graduação de faixa no judô?

A sensação é de abandono. Deixa marcas. Você admita ou não.

O crush desapareceu sem nem responder mensagem? Ficou esperando num encontro às cegas e ninguém apareceu? Seu marido saiu de casa para trabalhar há 16 anos e nunca mais voltou? 

Sim. Acontece.

Ouvi uma história de abandono semana passada. Foi assim mesmo, o cidadão saiu um dia e nunca mais voltou. Nenhuma explicação. Nada. Deixou a esposa, o filho de dois anos e toda a família sem notícias.

Até hoje.

Tem muitas histórias assim. Mais ainda de abandono emocional – quem não tem coragem de partir fisicamente, mas que já não está lá há muito tempo. Não se importa, não apoia.  

A gente constrói vários monstros, aponta, julga, guarda mágoas e rancores ao longo das nossas histórias de abandono. Perde esse tempo e essa energia com o foco no outro. E as feridas lá, sendo ignoradas. 

Mulheres ainda estão mais dispostas a enfrentar essas chagas. Ainda que de forma meio torta, a gente tem liberdade para falar de emoções. Mas, o machismo cala e seca os homens. Eles não podem admitir “fraqueza”.  E aí, seguem a vida fingindo que nunca foram machucados, que não sentem o abandono do pai, que não ligam para os foras que receberam ao longo da vida, que superaram a infância suprimida pela responsabilidade de “virar homem”.

E seguem machucando por aí, normalizando condutas de abandono. Afastando pessoas. Retirando-se de relações por falta de habilidade de lidar com as próprias emoções.

Em algum momento esse ciclo precisa se romper. Como mãe de um menino eu penso muito sobre isso. Que todas as vezes que ele ouve “menino bonito não chora” essa cultura que não permite aos homens admitir sofrimento se fortalece. E isso vai continuar adoecendo as relações.

Somos, homens e mulheres, seres integrais. O emocional nos compõe. Nos amarra ou nos liberta. 

E tem muita gente presa achando que abandonar é liberdade.