1. ato ou efeito de sair sem intenção de voltar
2. falta de amparou ou de assistência
Essa é a definição linguística de abandono.
Todo mundo conhece. Como sujeito ativo ou passivo. Às vezes, os dois ao mesmo tempo.
Você já foi esquecido na escola? Ninguém apareceu na apresentação do Dias dos Pais? Sua mãe faltou àquela luta importante de graduação de faixa no judô?
A sensação é de abandono. Deixa marcas. Você admita ou não.
O crush desapareceu sem nem responder mensagem? Ficou esperando num encontro às cegas e ninguém apareceu? Seu marido saiu de casa para trabalhar há 16 anos e nunca mais voltou?
Sim. Acontece.
Ouvi uma história de abandono semana passada. Foi assim mesmo, o cidadão saiu um dia e nunca mais voltou. Nenhuma explicação. Nada. Deixou a esposa, o filho de dois anos e toda a família sem notícias.
Até hoje.
Tem muitas histórias assim. Mais ainda de abandono emocional – quem não tem coragem de partir fisicamente, mas que já não está lá há muito tempo. Não se importa, não apoia.
A gente constrói vários monstros, aponta, julga, guarda mágoas e rancores ao longo das nossas histórias de abandono. Perde esse tempo e essa energia com o foco no outro. E as feridas lá, sendo ignoradas.
Mulheres ainda estão mais dispostas a enfrentar essas chagas. Ainda que de forma meio torta, a gente tem liberdade para falar de emoções. Mas, o machismo cala e seca os homens. Eles não podem admitir “fraqueza”. E aí, seguem a vida fingindo que nunca foram machucados, que não sentem o abandono do pai, que não ligam para os foras que receberam ao longo da vida, que superaram a infância suprimida pela responsabilidade de “virar homem”.
E seguem machucando por aí, normalizando condutas de abandono. Afastando pessoas. Retirando-se de relações por falta de habilidade de lidar com as próprias emoções.
Em algum momento esse ciclo precisa se romper. Como mãe de um menino eu penso muito sobre isso. Que todas as vezes que ele ouve “menino bonito não chora” essa cultura que não permite aos homens admitir sofrimento se fortalece. E isso vai continuar adoecendo as relações.
Somos, homens e mulheres, seres integrais. O emocional nos compõe. Nos amarra ou nos liberta.
E tem muita gente presa achando que abandonar é liberdade.
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