Uma delas é que a noite não foi fácil. Aliás, os dias não tem sido fáceis. Os meses. Bom, o último ano foi bem complicado.
Mas, quando
há o desague numa madruga, a gente acorda meio de ressaca. Dor de cabeça, olho inchado.
Horrorosa.
Culpada.
Com medo.
Se sentindo abandonada.
Cansada de estar em estado de alerta constante por, sei lá, 14 meses.
Com raiva.
Eu acho que, em outra vida, eu morri numa guerra. Como civil, não na linha de
frente. Já sonhei com bomba caindo na minha casa. E a explosão de fogos de
artifício são gatilhos.
Já imaginou?
Você no conforto da sua casa, na mesa de jantar, pensando nos problemas
cotidianos enquanto ouve uma música e... BOOM! Tudo pelos ares! Não dá tempo
nem de entender o que está acontecendo.
Eu sempre
fico pensando nessas coisas. E as notícias da guerra entre judeus e palestinos
também contribuíram pra reflexões recentes...
Essa pandemia gerou o mesmo estrago de uma guerra, mas com impactos
homeopáticos distribuídos ao longo de 14 meses – e contando.
Os prédios
estão de pé, a estrutura das cidades continua a mesma, não tem escombros
físicos nem concreto nas ruas...
Mas, o mundo todo foi destruído. Vamos ter que reconstruir do zero. Não existe
isso de “novo normal”. Não tem nada de normal.
É o novo.
Ponto final.
O que nos
gera sofrimento é usar o antigo como referência. Porque não, não voltar a ser
como antes. Nada é como antes depois de uma guerra.
Tem traumas.
Tem saudade.
Tem ausência.
Tem também progresso.
Aprendizado.
Crescimento.
Não sem dor, óbvio.
Não tem com passar por uma guerra sem sentir dor.
Essa madruga eu me entreguei a essa dor. Mas, sei que não posso ficar muito
tempo largada nela.
Porque os sobreviventes é que reconstroem o mundo.
Que tipo de mundo você quer construir?
PS: mesmo
com a cara de baiacu que eu acordei, MM olhou pra mim, passou a mão no meu cabelo
e disse: “bonita do Mulilo!”
É por ele que pego o restinho de forças, levanto, e vou tentar construir um
mundo descente!
Nenhum comentário:
Postar um comentário