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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Ode ao desencalacramento

Encalacrar.

1. Atrapalhar; entalar
2Meter(-se) em contenda judicial 
3. Colocar(-se) em dificuldades

Eu (me) encalacro
Tu (me) encalacras
Ele (me) encalacra

E assim sucessivamente por toda a conjugação verbal, sempre precedido pelo pronome oblíquo átono na primeira pessoa do singular.

Alguns sujeitos encalacram-se com mais facilidade que outros. São sujeitos determinados – muito determinados – porém meio subjetivos. Aí, encasqueta com um predicado e faz todas as variáveis possíveis de orações.

No entanto, as conjunções concessivas e condicionantes são as preferidas desse tipo de sujeito.  As conclusivas, coitadas, são meio preteridas.

É que, por mais que esse sujeito encalacrado queira muito concluir, morre de medo de um “portanto”.

E um “portanto” é essencial para desencalacrar

Portanto, esqueça.

Portanto, emagreça.

Portanto, case.

Portanto, separe.

Portanto,  compre uma bicicleta.

Portanto, decida.

Portanto, mande ir à merda.

Portanto, diga que ama.

Portanto, chore.

Portanto, vá. Ou volte. Ou fique.

Mas, desencalacra! Faça uso desse “portanto”.

Ou das variáveis “por conseguinte”, “logo”, “assim”...

Conclua.

Encerre.

O ponto final existe pra isso.

Ponto final. Pula uma linha. Novo parágrafo. Letra maiúscula. E começa outra oração.

Tia Claúdia me ensinou isso há 20 anos – quando eu tinha medo de escrever poesia (uma vez que não sabia rimar) e fugia pro banheiro na hora da “produção de texto”.

Ainda não sei rimar.

E fugir virou uma especialidade.

Tô encalacrada aqui, tia Cláudia!

Sempre que eu acho que vou encerrar, surge uma interrogação. E nenhuma resposta.

Sem falar nas reticências...

Esse sinal gráfico que acha que temos todo o tempo do mundo. 

Pretendo viver muito mesmo, mas... né? Quem me garante? E, mesmo assim... Viver encalacrada? Sem definição?

Hein?

Olhaí, ninguém responde!

...

...

...

Então, nesse finalzinho de 2015, a minha campanha é pelo desencalacramento!

Em homenagem à tia Cláudia, desencalacrarei! 

Em homenagem a você, desencalacre-se!

Vamos trabalhar no concreto. No presente. Que é o que temos. 

O resto, te encalacra.

Limita a visão. 
Distorce a razão. 
Encobre a solução.

Entendeu por que eu fugia no dia de poesia?

E fique atento para não ser o encalacramento da vida de ninguém.

Se você é/está encalacrado, resolva seu problemas primeiro. Não saia por aí encalacrando as pessoas não.

Portanto (olha ele aí!), desencalacrai-vos!









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