60 dias de
isolamento.
Um carrossel
de emoções: incerteza, com esperança, com desespero, com exaustão, com álcool 70%,
com máscara, com óculos embaçado, com coração despedaçado.
Com
escritório dentro de casa, com casa com vazamento, com busca por apartamento,
com mudança do lado fora – e uma enorme do lado de dentro.
Em meio a
todo o caos, uma pausa forçada.
Uma queda,
um corte, muito sangue, pronto socorro. Três pontos na testa.
MM ganhou
sua primeira cicatriz. Numa sexta-feira à tarde, no meio de uma brincadeira.
Quando se
trabalha em casa com um bebê de 1 ano é simplesmente IMPOSSÍVEL dar conta de
tudo sozinha. Principalmente se o seu escritório precisa simular um estúdio de
rádio – não dá pra fazer participações ao vivo na programação com um bebê no
colo. Acredite. Eu tentei.
Meus mamilos
sangrando foram testemunhas de todas as estratégias que eu experimentei.
Simplesmente
não dá. Eu preciso de ajuda.
E, tinha
alguém me ajudando enquanto eu trabalhava. Mas, aquele choro desligou
qualquer outro som ao redor. O choro,
para uma mãe, denuncia: deu ruim!
A cena
assusta. Eu não sabia que tinha TANTO sangue na testa. E tão pouco correndo nas
minhas veias ao ver meu MM todo ensanguentado.
Mas, ele não
precisa de uma mãe desesperada - pensei em meio à vertigem.
Para.
Respira. E faz o que tem que ser feito.
Gelo. Colo.
Fralda.
Mais gelo. Mais fralda. Mais colo.
Mais gelo. Mais fralda. Mais colo.
O choro
cessou. O gelo virou brincadeira. O sangue estancou.
E é como se
nada tivesse acontecido.
Quer correr.
Quer pular. Quer seguir descobrindo o mundo.
Nova pausa
dramática. Primeira ida ao hospital.
Anestesia. Choro. Costura a testa. Mais sangue.
Acabou. Um
abraço e o mundo volta ao normal (o dele – no meu,
as pernas ainda tremem).
MM nem
lembra que tem testa. Não se lamenta. Não pensa
na cicatriz. Não perde tempo pensando como poderia ter evitado. Não deixa de
aproveitar cada minuto para abrir gavetas, correr com a bola na mão, aprender
novas palavras, brincar com a Maya.
MM me deu
uma grande lição.
Quando é que
a gente perde essa capacidade de resiliência? Onde deixamos esse poder de
adaptação? Que caminho é esse que nos leva a sempre estar preso ao que poderia
ter sido ou ao que será lá na frente, e perder toda a diversão do presente?
Mesmo com pontos na testa, é possível. Mesmo com o coração aos pedaços, dá pra
seguir. Mesmo com máscara e distanciamento social, dá pra ser!
Levanta,
seca a lágrima, estanca o sangue, pede um abraço (virtual, por hora) e segue!
Já dizia Dory: continue a nadar!
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