Acho a nossa
estratégia de sobrevivência muito poética. Para superar a dor, as mágoas, os
rancores, a gente se apega sempre à parte boa e bonita da história.
É isso que
garante, por exemplo, a perpetuação da espécie. A mãe esquece as dores na
coluna e a azia da gestação, os incontáveis meses em privação de sono, as
toneladas de fraldas (e os cifrões que isso envolve)... esquece tudo e engravida
de novo!
Passa por
tudo outra vez porque se apega à parte boa e bonita da história. Às mãozinhas sedentas
por descobrir o mundo, aos olhinhos curioso, ao cheirinho de neném, às risadinhas
por qualquer gracinha sem graça que a gente faz... Isso tudo também passa, mas
disso a gente senta falta. E quer viver de novo.
Não. Eu
ainda não estou nessa fase. Mas, semana passada, me peguei chorando, com
saudade de amamentar. Sim! A gente não lembra do mamilo rachado, nem do leite
empedrado. A gente lembra daquele carinho, do neném adormecendo nos seus braços
na mais completa sensação de paz. E dá saudade.
É poético,
né?! É a nossa forma de sobreviver.
E isso vale
pra tudo.
Eu sei que virei
noites concluindo trabalhos da faculdade, que não tinha dinheiro nenhum naquela
época, que tinha um medo danado de não me encontrar na profissão. Mas, é muito
mais latente na memória as tardes que eu passei jogada no Minhocão da UnB
filosofando sobre a vida, as amizades que fiz com mulheres que são meu arrimo
até hoje, as festas estranhas com gente esquisita, os churrascos sem carne dos
cursos de engenharia... é essa a parte boa que fica!
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