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sábado, 12 de janeiro de 2013

Prédios, degraus e Camões


Tem alguém aí totalmente satisfeito com a vida que leva? É possível isso? Ou estamos todos condenados à inquietude eterna?

É como se a escada nunca tivesse fim. Você sobe, sobe, sobe e o que te motiva é olhar pra cima e ver que lá do alto do prédio a vista deve ser linda. Aí você continua subindo e quando chega, aprecia a vista por um minuto, agradecida pela oportunidade e pensando que todos os degraus valeram a pena.

Até que você olha em volta e percebe um prédio mais alto ainda, de onde a vista deve ser muito mais abrangente, panorâmica. “É pra lá que eu quero ir”.

E começa a subir mais e mais degraus.

Sempre haverá um prédio maior? O nosso prédio nunca será da altura suficiente?

Essa possibilidade me assusta. Porque, pensando assim, passaremos a vida subindo escadas e nunca teremos tempo de sentar no terraço com uma taça de Lambrusco, admirar a vista, sentir a brisa no rosto e recuperar o fôlego da subida. Nesse raciocínio, a gente pára (com acento porque eu me recuso a abandoná-lo e as novas regras ortográficas nem estão valendo ainda) somente quando o coração der um siricutico no milionésimo degrau.

E aí? A subida foi pelo menos divertida? Ou a preocupação em chegar era tão grande que a gente nem observou as obras de arte que enfeitavam os corredores?

Além disso, há algum problema com os prédios normais? Aqueles que não são um arranha-céu, são apenas edifícios. Cumprem sua função, são honestos e limpinhos, no padrão. Não se destacam, é verdade, mas compõem o cenário da cidade.

Ninguém quer tirar fotos em frente à fachada dos prédios normais. Mas, eles continuam ali, sendo úteis pra muita gente. E a vista do terraço também é bonita. Por que não se contentar com ele?

Porque contentamento é quase sinônimo de preguiça. De derrota.

É?

Contentamento descontente, diria Camões.

De onde vem toda essa pressão, Camões? É proibido contentar-se de contente?

Talvez seja o momento de sentar no degrau onde estiver, dar uma olhada em volta e pensar se continuar subindo é uma vontade ou uma imposição. Se o desejo não é, na verdade, descer e brincar no térreo, onde não há nenhum risco de cair – ou onde a queda é menor.

Às vezes é preciso mais coragem pra descer que pra subir, mesmo com a força da gravidade a seu favor.

Agora, se a vontade for subir, tem que ir! Nem que seja pela escada de incêndio. O que não pode é passar a vida esperando o elevador. Eles demoram a chegar e não cabe todo mundo lá dentro. Somente alguns alcançam o topo do edifício sem o esforço dos degraus. 


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