Outro dia voltei no mesmo self-service perto do trabalho onde eu almocei praticamente todos os dias nas últimas semanas da gestação.
Tudo estava como era antes, sete meses atrás. Os mesmos funcionários, o mesmo cardápio, o mesmo desconto para funcionários da firma... a diferença é que dessa vez eu pude colocar salada crua, coisa que você evita comer fora de casa durante os nove meses da gravidez.
É... tudo continua na mesma. Parece que sai daqui ontem!
Outra coisa que eu sempre fazia era tomar capuccino na livraria perto dali. Adoro o capuccino de lá. Mas, durante a gravidez a gente também evita café.
Não sei se tem base científica, eu evitei. Até porque enjoei.
Enfim, fazia MUITO tempo que não passava lá pra tomar um capuccino e a ideia de reviver esse momento corriqueiro me empolgou demais. Lá fui eu, sorridente e animada até à livraria.
Nada estava no lugar! A livraria estava completamente diferente. Fecharam o café!
Fecharam
o
café
A sensação era de que eu dormi por milênios, acordei, e não reconhecia mais nada.
A atendente que era minha amiga, a que sabia o jeitinho do meu capuccino, a que nem esperava eu pedir porque já sabia o que eu queria, estava grávida da última vez que a vi.
O filho dela já tem um ano e quatro meses - me contou sorrindo.
Por quanto tempo eu dormi?
((ou melhor: por quanto tempo perambulei pelo puerpério? - dormir está entre as atividades que eu menos fiz nos últimos meses))
Em questão de minutos eu fui de "a vida nem mudou tanto assim" para "nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia".
E tem sido assim.
Tem dias que a gente acorda e acha que tudo vai um dia se encaixar, ainda que você não consiga almoçar e esteja sem lavar o cabelo há uma semana.
Em outros a única solução parece ser chorar compulsivamente no caminho pro trabalho, depois de deixar o neném na creche - chorando também, gritos que você consegue ouvir do lado de fora, mas "o dever chama" e o relógio não espera.
E aí toca uma música no rádio. E você lembra que gosta de música. Que gosta daquela música. E a sensação é de ter encontrado uma velha conhecida que não via há anos!
"Oi, Carol, você por aqui? Que coisa boa saber que, vez em quando, você aparece!"
Ela está por aqui. Em algum lugar. Aquela Carol de antes às vezes aparece. Bem rapidinho, só pra lembrar que foi ela quem ajudou a fazer o caminho até aqui. Depois vai embora. Não é mais o momento dela.
Essa Carol de agora ainda está meio deslocada. Está tentando caber: no novo espaço, na nova rotina, nas roupas. Fazendo malabarismo para carregar sacola, carrinho, neném e culpa. Se acostumando com a nova bagunça da bolsa, que tem caneta, crachá, bomba de leite e mamadeira.
É uma bagunça mesmo. Por dentro e por fora.
Não dá para trabalhar fora, cuidar do neném, juntar brinquedos, colocar roupinha de molho, cuidar do neném, fazer papinha fresca todo dia, recolher o lixo, arrumar a cama, cuidar do neném, limpar o chão, lavar a louça, lavar o banheiro, cuidar do neném.
Simplesmente não dá. Não cabe em 24 horas. Nem em 48.
Vai ficar coisa fora do lugar. Do lado de fora e do lado de dentro.
Tem que abrir mão de algumas coisas.
Do controle, principalmente.
Isso não existe
E de tudo mais que estiver pesando a carga.
Afinal, são apenas dois braços. Uma coluna estourada.
E um peito cheio.
Porque, se não é o amor... eu nem sei!
Em tempo:
você que convive com mulheres que estão nessa recém-maternidade (não importa se do primeiro, do segundo ou do décimo filho), seja paciente e delicado com as palavras. Você que não sumiu nem se escondeu e ainda que ser amigo/amiga dessa mulher, compreenda que nosso mundo está meio bagunçado, mas a gente ainda quer (e precisa) conversar. Você que faz parte da rede de apoio, ajude a cuidar do neném, mas lembre que a mãe também precisa de cuidado, de tempo pra autocuidado.
Pela atenção obrigada.
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