É uma sensação estranha... como se essa vida de agora, não fosse dela. Como se estivesse assistindo os acontecimentos. Expectadora de si mesma.
Encara o espelho em busca de algum vestígio. Alguma coisa conhecida, algum traço que rememore aquela de antes.
Mudou o corpo. Mudou o cabelo. Nem as roupas são as mesmas. Nada é igual.
"Quando foi que eu me perdi?" - pensa com o neném no colo, tentando entender se é possível uma operação resgate.
Ela tem um neném. E toma um susto sempre que lembra disso.
"Um filho. Um pedacinho de mim. Melhorado e fofo!", ri, para disfarçar o medo dessa responsabilidade. E se emociona, porque é bonito pensar que um pedaço dela renasceu.
E é aí que está a beleza mesmo. No renascimento.
A vida antiga não existe mais.
O segredo é parar de procurar por ela. E prestar atenção na outra, que renasceu. Que está crescendo. Aprendendo como se recolocar no mundo.
Aprendendo.
Sabe a paciência? Essa que se tem com o neném, que está aprendendo a andar, a falar e até a lidar com as emoções? Ela também é necessária para se encontrar, se entender e se reconectar depois de um renascimento.
Você não exige que um bebê de 1 ano saia por aí lendo livros de filosofia ou dando palestras sobre como controlar a raiva.
Essa cobrança também não é justa com você.
Então, ela - eu - essas mulheres que tentam se harmonizar - pararam por alguns minutos. Olharam o neném dormindo...
"Vamos sentar pra conversar? Vamos nos acolher? Vamos nos abraçar?"
Honrar a que nos trouxe até aqui. Agradecer todos partos que possibilitaram renascimento. E pegar no colo essa nova versão de nós, que está chegando agora.
A nova vida é essa. Com esse corpo que foi morada. Com esse cabelo que caiu. E deu espaço pro novo, que está crescendo. E com esse moletom confortável de querentena.
Tem explicação na física quântica pra essa reconexão. Mas, eu nuca fui boa em Exatas - nenhuma versão de mim. Agora, intuitivamente (em intuição eu sou boa!), sei que a gente vai se entender. No fundo, a gente se gosta
:)
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