“E quem
me vê apanhando da vida duvida que eu vá revidar
Tou me guardando pra quando o carnaval chegar”
Esse
verso de Chico Buarque acendeu em mim um milhão de reflexões e vontades nessa
sexta-feira de Carnaval confinada.
O brasileiro
(que gosta de Carnaval) vive uma verdadeira catarse nessa época do ano. Esquece
problemas, mágoas, falta de grana, e vai se curar na folia. Na rua, nos blocos,
na avenida, em cima do trio, na pipoca, nos camarotes, na corda, no meio do
mato acampado... cada um tem sua fuga preferida. Acho que é isso: o Carnaval é
uma grande fuga.
A gente
joga purpurina pra cima e sai correndo. São quatro dias (às vezes mais) de uma
vida paralela. Uma realidade forjada em muita felicidade, em muita substância
que facilita essa felicidade, em amizades fáceis, amores fáceis, sorrisos
fáceis.
Isso
aqui não é uma crítica. Eu faço parte desse grupo. Muitas vezes me peguei meio
depressiva no meio do bloquinho, pensando qual era o sentido daquilo tudo ali,
mas estava lá! Acho importante esse respiro. E cada um respira como dá.
Mas,
este ano, não vai rolar essa fuga. A realidade que se apresenta é dura e não convém
fugir dela. Há uma ameaça invisível, mas que matou muita gente e continua aí.
Aquela
onda de abraços em desconhecidos, compartilhando a garrafa de catuaba e usando
o mesmo banheiro químico quente, úmido e fedido (essa parte é o preço que se
paga)... Reaproveitando o confete caído no chão, todo mundo meio sentado/meio caindo
na calçada para tirar a selfie, a volta pra casa no metrô lotado ao som de
músicas duvidosas...
Para
gente é lazer, pra uma galera é forma de garantir a renda do mês, para outra
parte é a vida mesmo, um ano todo em função de construir carros alegóricos,
escrever samba-enredo, ensaiar a percussão... A estimativa do setor de turismo
é de um rombo de R$ 4 bi. Na economia como um todo, o dobro.
Foi o
que a realidade nos impôs. E quanto mais tempo demorarmos a aceitar, mais tempo
ela vai continuar dando na nossa cara.
Parafraseando
Chico, com adaptações, tou me guardado para quando Carnaval de 22 chegar. Se a
gente fizer tudo direitinho e, apesar de quem gostar de atrapalhar, a vacina
chegar pra todo mundo, o Carnaval de 22 vai ser uma celebração épica!
“Eu
tenho tanta alegria, adiada, abafada. Quem dera gritar
Tou me guardando pra quando o carnaval (de 22) chegar”
Axé!
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