Gertrudes sempre ouviu as pessoas dizerem que a academia era um dos melhores lugares para paquerar.
Não para ela.
Gertrudes entra na academia, faz o que tem que fazer, e sai da academia. Não que ela não repare nos moços bonitões. Ela repara. Ela repara até em como as pessoas estão emagrecendo. E desenvolve conceitos sobre a orientação sexual dos homens de acordo com a roupa que eles escolhem e da pose que eles fazem enquanto levantam todo o peso possível no supino reto.
Mas paquerar... Gertrudes nem sabe como se paquera. Ainda mais toda suada e preocupada se a barra de chocolate que ela comeu depois do almoço será eliminada com 15 minutos de corrida na esteira.
Entre um pensamento e outro ela dá umas olhadinhas pro moreno alto de barba serrada com calça preta e blusa vermelha que se esforça no sobe e desce da panturrilha. Mas ela faz tudo de forma milimetricamente coordenada para ele NÃO perceber que está sendo observado.
Justamente o “contra-objetivo” da paquera.
Mas Gertrudes é assim. Nunca aprendeu a paquerar, coitada. Aprendeu gramática, biologia, se esforçou para compreender física. Agora, paquerar que é bom, paquerar que é útil pra vida, nunca ninguém ensinou.
Na época em que as pessoas começam o intensivão de paquera - naquela puberdade dos 13 anos - Gertrudes era completamente míope. A 200 metros de distância, não conseguia distinguir um menino de um boneco de palha.
E quando conseguia também não tinha coragem de encarar. E quando experimentava sempre fazia uma cara meio de brava, pra poder enxergar melhor, o que acabava espantando os bonecos de palha.
Se a situação era inversa, quando alguém se mostrava disposto a paquerar Gertrudes, ela nunca sabia como agir. Sempre achava que o cabelo desgrenhando ou a espinha na testa era o motivo do olhar fixo do rapaz. Quando criava coragem pra corresponder, procurava algum motivo nele pra desistir: o topete de pagodeiro, o sapato branco de médico, os menos de 1,80m.
Quando queria, Gertrudes enxergava muito bem.
E enquanto corria na esteira ficava pensando o quanto seria mais prático se o moreno alto de barba serrada fosse falar com ela. Porque ele não tinha topete, usava tênis e tinha mais de 1,80m.
- Oi! Sou eu o escolhido! Não precisa mais se forçar a sair por aí nos sábados à noite pra tentar fazer uma coisa que você não sabe. Não precisa me paquerar. Nós somos feitos um para o outro.
Mas dar um tiro de cinco minutos a 10km/h na esteira cansa e a falta de ar traz Gertrudes de volta a realidade. Ela sai da esteira e vai pegar um halter pra tentar acabar com o “tchauzinho” do braço.
E vejam só quem está lá, pertinho do banco que Gertrudes quer usar. O moreno alto de barba serrada.
- Você tá usando aqui?
- Oi?
- Você tá usando aqui?
- Não!
E Gertrudes começa sua série de 20. Esse é o máximo da paquera que ela alcança na academia.
Adorei!! Divertidíssimo!! rsrsr
ResponderExcluirhahahah
ResponderExcluirMassa Carol!
Acho que esse moreno tá meio lerdinho... ou talvez ele tenha aquela miopia da Gertrudes aos 13! hihihi