A minha prioridade
por aqui é comentar obras afrocentradas. Não é o caso de “Pieces of Woman”, um
filme americano, com produção de Martin Scorsese,
assinado por roteirista e diretor húngaros, filmado no Canadá. Mas, uma
trama que aborda a perda perinatal e se arrisca no terreno do parto humanizado
domiciliar, vale a exceção.
Eu chorei no
trailer – e pensei duas vezes antes de adicionar o filme na minha lista. Como o
esperado, impossível conter as lágrimas ao longo das duas horas de uma trama que
te envolvente profundamente – principalmente se for mãe.
Somos apresentados
à Martha e Sean quando o casal está nas semanas finais da gestação – e toda a
expectativa que isso gera. Depois, somos testemunhas oculares do parto domiciliar
de Martha: quase meia hora de ansiedade, bolsa rompendo, dor, contração, a
frustração ao saber que a enfermeira que acompanhou o pré-natal não vai chegar
a tempo... a força da mãe que quer parir, o medo e o esforço do pai que quer
apoiar. Quem pariu vive um flashback. Quem pariu em casa com certeza vai apontar
problemas na cena. E profissionais de saúde que dão assistência a esse tipo de
parto também (aqui recomendo post que a
@humanizapartos fez sobre o filme e ajuda a desmistificar o parto domiciliar).
Quando a
angústia do parto acaba, breves minutos de pura ocitocina e contemplação – até que
a neném para de respirar e a gente também prende a respiração.
Sabe aquele
bagunça que vira a vida nos três primeiros meses do seu bebê A bagunça hormonal, o peito cheio de leite,
os 20 dias de sangramento, a desconexão com parceiro (quando há parceiro)
Imagina tudo isso sem o bebê. Imagina tudo isso em meio a autopsia, funeral,
culpa... o luto perinatal.
Mergulhar
nesse universo durante 60 minutos revela um pouco da dimensão do que essas
mulheres, essas famílias enfrentam. A insistência por uma reação, a gana de
encontrar um culpado pra ver se alivia a dor... muitos casais não resistem –
compreensivelmente.
Tem cenas que
destroem a gente. E interpretações belíssimas. Terminei o filme aos prantos.
Com vontade de abraçar cada mãe que viveuvive essa dor. Com vontade de agarrar
MM e não deixar ele sair dos meus braços nunca mais.
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