É preciso
admitir e partir deste princípio: o estupro está na construção da sociedade
brasileira. Mulheres africanas escravizadas, mulheres indígenas, eram constantemente violadas
pelos colonizadores. E o fruto dessa violência nos constitui como povo.
Esse levante
das mulheres contra a cultura do estupro é muito recente. Muitas ainda nem se
deram conta disso. Os homens então... é trabalhoso demais descontruir uma ideia
que está enraizada há tantos séculos. Por isso, é sempre bom lembrar: não
existe “sexo forçado” ou “sexo não consentido”. Tudo isso é estupro.
O conceito
de “sexo”, por si só, prevê uma relação em que as duas – ou seja lá quantas
partes forem – estejam de comum acordo.
Outro fato
que assusta, mas que é preciso encarar para tentarmos construir uma sociedade
mais saudável: os homens – até agora – cresceram naturalizando o estupro. Boa
parte deles, (isso inclui seus amigos íntimos, seus parentes, seus primos...) já transou com mulher desacordada
ou bêbada demais para reagir.
Nenhum deles
admite ser estuprador. Por isso, quando um caso como o de Mariana Ferrer vem a público
(como o dela, e até piores, existem MILHARES por aí, todos os dias), relativizar
a conduta do acusado é uma forma de amenizar também a consciência deles.
A tese de
que “não se sabia se a vítima tinha ou não condições de oferecer resistência”
brota dessa naturalização do estupro.
Você não
sabe? Simplesmente NÃO FAÇA!
Isso, como
se fosse possível um cara não perceber se a parceira sexual está acordada, ou drogada
demais.
Mas, ficou
não dúvida? NÃO FAÇA!
Não dá mais para tolerar essa estrutura patriarcal que consente ao homem a
propriedade de nossos corpos. O julgamento de Mariana Ferrer demonstra como
esses homens continuam unidos para defender essa prática abjeta. Homens
brancos. Homens ricos. Homens influentes. Homens privilegiados que são capazes
de qualquer coisa – como se viu na conduta do tal advogado – para manter esses
privilégios.
Mas, esses “privilégios”
agora configuram crime. Gostem ou não, o levante começou. E quem se omite é
conivente.
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