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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Estupro é estupro

 

É preciso admitir e partir deste princípio: o estupro está na construção da sociedade brasileira. Mulheres africanas escravizadas, mulheres indígenas, eram constantemente violadas pelos colonizadores. E o fruto dessa violência nos constitui como povo.

Esse levante das mulheres contra a cultura do estupro é muito recente. Muitas ainda nem se deram conta disso. Os homens então... é trabalhoso demais descontruir uma ideia que está enraizada há tantos séculos. Por isso, é sempre bom lembrar: não existe “sexo forçado” ou “sexo não consentido”. Tudo isso é estupro.

O conceito de “sexo”, por si só, prevê uma relação em que as duas – ou seja lá quantas partes forem – estejam de comum acordo.

Outro fato que assusta, mas que é preciso encarar para tentarmos construir uma sociedade mais saudável: os homens – até agora – cresceram naturalizando o estupro. Boa parte deles, (isso inclui seus amigos íntimos, seus parentes, seus  primos...) já transou com mulher desacordada ou bêbada demais para reagir.

Nenhum deles admite ser estuprador. Por isso, quando um caso como o de Mariana Ferrer vem a público (como o dela, e até piores, existem MILHARES por aí, todos os dias), relativizar a conduta do acusado é uma forma de amenizar também a consciência deles.

A tese de que “não se sabia se a vítima tinha ou não condições de oferecer resistência” brota dessa naturalização do estupro.

Você não sabe? Simplesmente NÃO FAÇA!

Isso, como se fosse possível um cara não perceber se a parceira sexual está acordada, ou drogada demais.

Mas, ficou não dúvida? NÃO FAÇA!

Não dá mais para tolerar essa estrutura patriarcal que consente ao homem a propriedade de nossos corpos. O julgamento de Mariana Ferrer demonstra como esses homens continuam unidos para defender essa prática abjeta. Homens brancos. Homens ricos. Homens influentes. Homens privilegiados que são capazes de qualquer coisa – como se viu na conduta do tal advogado – para manter esses privilégios.

Mas, esses “privilégios” agora configuram crime. Gostem ou não, o levante começou. E quem se omite é conivente.

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