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sábado, 3 de dezembro de 2011

Vó, eles que não mexem comigo!

Gertrudes não é diferente de ninguém. Quer dizer, é um pouco, mas em alguns aspectos a vida dela é bem comum. Por exemplo, a família cobra dela o que toda família cobra de uma menina jovem: um namorado.
Antes as tias, primas mais velhas e a avó ficavam em polvorosa pra saber sobre a menstruação. “E aí, ela já ficou mocinha?” A pergunta era pra mãe e em tom de cochicho, mas Gertrudes sempre ouvia e queria se enterrar no chão de tanta vergonha.
Quando finalmente Gertrudes conheceu os “prazeres” da TPM, a família estava ansiosa pelo primeiro beijo. “Você ainda é BV né, minha filha?” – porque sempre tem uma tia descolada que acha que falar no mesmo linguajar que os pré-adolescentes aproxima e facilita a comunicação.

Não. Não facilita.
Mas, sim! Gertrudes era BV. No entanto, nunca admitia. Nem negava. Deixava no ar. O que era o mesmo que dizer:  “Eu nunca beijei, mas tô louca de vontade e morro de medo de alguém descobrir isso!”

Só que, na época, Gertrudes achava que era a melhor opção. E achava que estava conseguindo disfarçar.
É porque Gertrudes foi a última da galera a beijar. Demorou! E quando finalmente aconteceu, ela sentiu como se tivesse se livrado de um peso.  “Agora eu posso responder a pergunta -  Claro que não sou BV, eu tenho 16 anos, já beijei muito!”
Mal sabia ela que as cobranças nem tinham começado.
Ainda tinha o vestibular, a carteira de motorista e, a perseguição que continua: o namorado.
“Mas e os namorados?”
NamoradoS! No plural!
Não gente, não tá fácil pra ninguém!  Gertrudes está se esforçando pra conseguir UM. E já tá mais que suficiente!
Gertrudes: Então vô... eu não tenho namorado.
Avô de Gertrudes: Mas nenhum?
Gertrudes: Não, vô! Nenhum!
Avô de Gertrudes: Mas nem na faculdade?
Em outras palavras e de maneira sutil, o avô de Gertrudes quer dizer que é um absurdo a pessoa ser jovem, se relacionar com várias pessoas na faculdade e não ter um namorado.
Gertrudes concorda! Mas, vai fazer o quê? Ela também não tem explicação.
Gertrudes: Não, vô! Nem na faculdade!
Avó de Gertrudes: Tá certa, minha filha! Tem que estudar primeiro. Moça só pode casar depois de formar!
Porque a avó de Gertrudes sentiu o drama e tentou dar uma força. O problema é que ela só adiou a cobrança. Porque agora Gertrudes se formou e, segundo as convenções sociais, já pode se casar.
“E os namorados, Gertrudes?”
Continua no plural!
Mas, Gertrudes entende a preocupação da família. Porque ela também está começando a ficar preocupada. Ela começa a se perguntar, “cadê os namorados, Gertrudes? Por onde eles andam?”
E quando se tem primas e irmãs mais ou menos da mesma idade, a cobrança vem de forma comparativa. Porque, só falta você!
E aí que a família de Gertrudes resolveu desencanar! Uma parte acredita que é por opção, outra deve achar que ela tem mesmo algum problema e não vai namorar nunca.
Até eu acho que Gertrudes tem algum problema e não vai namorar nunca. Mas, não precisa dizer isso na cara dela!
Porque enquanto a avó se orgulha de contar como a irmã de Gertrudes é sagaz e disputada pelos menininhos da cidade, tenta consolar Gertrudes:
Avó de Gertrudes: Você não, né minha filha? Você não mexe com isso!
“Olha vó, eu juro que eu tento mexer com isso! Mas eles é que não querem mexer comigo” – pensou Gertrudes ao sorrir carinhosamente e concluir que mais que uma necessidade afetiva, o namorado é quase um atestado social. Ela só sabe não ainda o que quer atestar.

Ainda bem que minha avó não é assim!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

"O que existe é o Sol, o resto é invenção"

Não que eu acredite em espíritos, mas que eles existem, existem!
Tem um que sempre incorpora em mim quando eu estou dirigindo ou assistindo futebol. É a entidade mais desbocada e impaciente que eu conheço. E ela é forte! Forte e inconseqüente – duas características que juntas são um desastre iminente.
O fato é que, dirigindo ou vendo futebol, eu solto palavrões que eu nem conheço e desafio a medicina me mantendo viva mesmo com os batimentos acelerados e a pressão baixa.
Não sou eu. É a entidade que me domina. De um jeito meio torto ela me ajuda a controlar o nível de cortisol. Mas tem situações que nem ela dá conta.
Pode xingar, chorar, gritar... só o vômito de palavras dá jeito. Isso quando elas saem. Às vezes ficam presas de uma maneira que não há dedo na garganta que resolva. Elas entalam e ficam te sufocando por vários dias... até que de repente vem aquele jato misturado com suco gástrico e bile! Alivia quem vomita, enoja quem vê. Nesse caso, lê.
Mas, este vômito aqui não é sobre vômito não.
É sobre a incapacidade humana de viver um dia de cada vez. Porque tudo que você faz agora é pensando em alguma coisa de amanhã. Ou de depois de amanhã. Ou do Natal. Mas nunca é do hoje.
E a única certeza que a gente tem na vida é que amanhã o Sol vai nascer. Mesmo que você não veja, mesmo que você nem esteja mais nesse mundo. O Sol vai continuar nascendo dia após dia – pelo menos até 2012, segundo o calendário Maia.
Porque o Sol existe! O resto é você que inventa! As necessidades, os problemas, os palavrões, tudo invenção da sua cabeça (?).
O Sol existe. O que você faz no espaço de tempo que ele leva para morrer e nascer de novo, é uma escolha sua.
Porque o Sol pode fazer merda. Pode acordar puto e resolver se esconder entre as nuvens. Pode ceder o lugar pra chuva, quando não está a fim de trabalhar. Ou pode até queimar a gente com tanta felicidade. Ele pode tudo. No dia seguinte é um novo dia e ele pode começar tudo de novo, ou tentar mudar. Há sempre uma segunda chance. Todo dia é uma segunda chance.
Já você...
Quantas chances a gente tem? Por que a gente age como se sempre fosse dar tempo de fazer tudo? E se não der? Por que planejar em longo prazo? Por que não agora, enquanto dá pra ver o Sol nascer?
Você trabalha hoje pra receber no fim do mês. Você estuda hoje par se formar daqui a quatro anos. Você não come uma pizza hoje para estar magra no verão. E pra hoje? O que tem pra hoje?
O que tem pra agora?
Ou você jura que vai comer menos, correr mais, trabalhar menos, viajar mais, brigar menos, beijar mais em 2012?
Eu juro que no final de 2012 – se os Maias estiverem enganados e o mundo não acabar – estaremos todos fazendo as mesmas promessas para 2013.
Até chegar 2077 e você escrever no epitáfio – “Não tem amanhã pra mim hoje”. Isso sendo bem otimista. Porque a expectativa de vida de quem nasceu no ano passado é de 73 anos. Chegar aos 90 é muito lucro pra quem estreou em 1987.
Sem falar que há intempéries da vida que podem te levar antes. Vai que você decide dar a volta ao mundo amarrado a balões de gás hélio e eles estouram? Vai que você se engasga com uma espinha de peixe? (eu tenho pavor de morrer engasgada!) Vai que um bêbado com a entidade desbocada te atropela na faixa de pedestre? Tudo pode acontecer.
Ou não.
Porque, o que existe é o Sol. O resto é invenção.
E Morpheus, hoje eu quero a pílula vermelha!

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ode ao Dia das Crianças

Outubro.

Há 14 anos esse mês era sinônimo de Dia das Crianças para mim. O que, obviamente, remetia à ideia (que naquela época tinha acento) de presente! Era o momento de ficar atenta às propagandas da televisão para decidir que Barbie pedir - a ginasta? A bailarina? A empresária com carro e telefone celular?

Agora, outubro é apenas o sinônimo de fim das minhas férias!

Férias.

Desde que eu completei 12 anos essa é a única época da minha vida que eu passo as manhãs em casa.
No começo é bom. Na verdade, é ótimo. Você dorme até a hora que quiser e não fica com remorso de estar perdendo doze horas do dia na cama.

Aí, a gente começa a dar uma olhada no que tem pra ver na televisão: uma loira conversando com um papagaio e te ensinando a fazer quitutes; dois pirralhos girando roletas e gritando "PLEIesteiXOM, PLEIesteiXOM, PLEIesteiXOM"; dois jornalistas indignados com a violência de São Paulo ou com o fim do relacionamento de algum global, uma ex-modelo loira comentando as últimas da Fazenda e um mestre-cuca ensinando famosos a cozinhar.

E os desenhos animados?

Ah, sim! Os desenhos.
Tem “Avatar a lenda de Aang “, “Transformers“,  “Ben 10” e um monte de outras coisas que transformam gente em robô, têm superpoderes e lutam contra monstros metamórficos que ameaçam a continuidade da vida na Terra.

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Hã?

O que aconteceu com a magia da infância?
Onde estão os desenhos lúdicos e fofinhos?
É tudo tão cibernético e hi-tech… cadê as relações humanas?
Onde está a simplicidade do relacionamento entre crianças?
Onde foi parar o encanto do mundo infantil?
Enfim… 

O que aconteceu com o Fantástico Mundo de Bobby?



Porque o Bobby é o melhor! Eu me indetificava com ele de uma forma muito profunda. Aquelas viagens, aquelas histórias criadas pela imaginação… Era tudo tããããõ legal. Era tudo tão infantil!
E o Doug? Onde foi parar Doug Funny?
 


O menino certinho que vive uma paixão platônica por Patty Maionese, desabafa com seu cachorro Costelinha e  escreve, secretamente, um diário e as aventuras em quadrinhos do Homem-Codorna.  Tããããão legal!

Dramas reais! O relacionamento com o melhor amigo, Skitter (apesar de ser verde, ele era de verdade), o conflito com a irmã mais velha Judy, o constragimento de ser humilhado pelo bad boy da escola, Roger. Todo mundo se identificava. E ninguém era mutante!

E o mais fofo de todos…



Os Ursinhos Carinhosos

Okay. Eram ursos falantes. Mas eram lúdicos e ensinavam boas maneiras!
Aiai… como eram boas aquelas manhãs comendo pão com manteiga, molhado no leite com toddy e assistindo Ursinhos Carinhosos…

Outros bichinhos falantes adorados pela geração de crianças dos anos 90 eram os Muppet Babies.


A angústia de nunca poder ver a cabeça da babá e ficar só imaginando como era o rosto daquele ser de meias listradas, o amor da Pig pelo Caco, o constrangimento do Caco com amor da Pig, a falta de noção do Gonzo… tinha também  o cachorro tocador de piano, o Rowlf (meu preferido) e o Animal, um bebê judiado, coitado. Como era feio! Mas divertia a manhã de crianças felizes e inocentes.

Até a produção dos desenhos era mais legal. Cada um tinha uma abertura, era como são as novelas hoje em dia: era só começar a musiquinha que você logo sabia qual desenho ia começar.

Era assim com Cavalo de Fogo, Caverna do DragãoOs Smurfs


Isso sem falar dos programas infantis, como Glub GlubAgente G e Rá-Tim-Bum. Ou os seriados infanto-juvenis tipo Blossom.  Mas isso é assunto para um outro pitaco.
O pleonasmo que me desculpe, mas a infância dos anos 90 foi muito mais infantil  do que a da geração 2000 (o nosso forte é a rima!). A gente gostava de superpoderes também - é só lembrar de He-Man, She-Ra, PowerRangersCapitão Planeta – mas ainda conseguíamos nos encantar com as histórias bobas de  Punky – a levada da breca.

As manhãs eram muito mais divertidas! E ninguém precisava de TV por assinatura.
Por isso, preocupada com o futuro das nossas crianças, deixo aqui um apelo:

Vocês, que eram molecotes nessa época boa e que agoram estão grandinhos, se formando, virando  produtores, desenhistas, criadores ou diretores de empresas de comunicação, por favor, desenvolvam desenhos legais para os nossos filhos poderem assistir (e, se possível, reprisem o Bobby e o Doug, pelo menos)!


Esse post foi escrito e publicado em março de 2009 no Pitacos e Petiscos. Com a proximidade do Dia das Crianças decidi ressucitar o texto com algumas adaptações temporais.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Acaso, passe no RH!

Chega um momento da vida que, se não está dando certo, é melhor mudar de estratégia.
Foi essa a conclusão de Gertrudes depois de avaliar alguns aspectos da própria vida. Fez um retrospecto e percebeu que algumas coisas eram sempre iguais. Como um filme que ela já sabia o final e que repete todo mês na sessão da tarde: só mudam alguns personagens e o cenário. O enredo, no geral, é o mesmo.
O que revoltava Gertrudes era o fato de que apesar de se tratar da própria vida, ela não era a diretora desse filme. As cenas nunca saiam como ela imaginava. E pior: ela não tinha o poder de voltar quando alguma coisa dava errado. Quando as falas eram duras demais ou quando ela esquecia o texto e não sabia o que dizer, por exemplo. E por mais que ela quisesse voltar a fita 5 segundos e pisar um pouco mais no freio, não tinha como gritar “corta!” e começar tudo de novo. Uma vez feito, ficava gravado pra sempre no HD de Gertrudes.
Algumas cenas, muito corriqueiras e insignificantes, ela deletava. Simplesmente apagava do arquivo. Mas outras, por mais que ele quisesse esquecer, era impossível apagar. Estavam protegidas com a senha da culpa, do remorso ou do arrependimento.
Até então, Gertrudes, apesar de inconformada, aceitava que o Acaso dirigisse o filme dela. Ela foi convencida de que seria mais fácil deixá-lo sentar na cadeira de diretor. Assim, ela sempre teria quem culpar caso o resultado fosse ruim. Se uma cena ficasse feia ou se algum ator não aparecesse, a culpa era sempre do Acaso.
O Acaso é sempre muito recomendado para dirigir filmes cuja protagonista é fraca. Gertrudes, em tese, não era fraca. Mas ela tinha medo de arriscar. O Acaso também adorava trabalhar com as medrosas. Então, por um longo tempo, a parceria deu certo. Nas cenas cotidianas, de esforço individual, de ação e até de comédia, o Acaso dava toda liberdade para Gertrudes. Ela agia como queria e sempre alcançava o objetivo.
Já nas cenas de drama, de terror e, principalmente, de romance, Gertrudes deixava tudo nas mãos do Acaso. Era sempre ele quem decidia quando, onde e como. Ela não tinha, nunca, nenhuma iniciativa, era totalmente dirigida pelo Acaso.
Mas Gertrudes sempre achou o Acaso meio incompetente nesse sentido. Achava as decisões muito equivocadas e sempre esperava cenas mais emocionantes onde a vontade dela fosse levada em consideração. Nunca estava satisfeita com o desfecho que o Acaso escolhia.
Depois de muito reclamar, Gertrudes decidiu demitir o Acaso. Cansou de ficar submetida às vontades daquele diretor meio louco e assumir a direção do próprio filme. Demorou a tomar a decisão porque, medrosa que é, teria que assumir as conseqüências das escolhas. Não teria mais ninguém pra culpar pelas cenas ruins. Mas, também receberia os louros dos Oscars que viesse a ganhar.
Foi assim que Gertrudes se tornou diretora do própria vida. Vez ou outra ainda pensa em desistir e ligar para o Acaso, perguntando se ele ainda quer o emprego de volta. Afinal, tantos anos dependente... é difícil seguir sozinha. Mas, até o momento, Gertrudes está firme. E aceita dicas de diretores independentes mais experientes e bem sucedidos.

A depender de Gertrudes também, Zeca Baleiro.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O mundo não é feito só de Jaquelines

Na semana em que a Câmara dos Deputados decidiu absolver Jaqueline Roriz eu perdi totalmente a esperança em tudo.  Fui tomada pela sensação de que o crime compensa e que ser honesto nesse país não vale de nada. A gente é do bem, paga os impostos e respeita a Constituição por princípios morais e valores que papai e mamãe nos ensinaram. Mas a única vantagem disso é um sono tranqüilo. Ou nem isso, porque eu duvido que essa galera tenha um minuto insone com peso na consciência.
Numa realidade mais próxima,  sem precisar chegar às grandes cifras (que nenhum de nós, mortais, terá acesso um dia) de políticos corruptos, a gente também tem exemplos dessa postura individualista que parece ser a nova doutrina do mundo. O importante é tirar vantagem. Seja no Congresso ou na vaga do estacionamento. Seja puxando o tapete do coleguinha no trabalho ou aceitando uma propina para macular uma licitação.
Até nos comportamentos mais ingênuos, quando a gente quer sempre ser acompanhado e nunca acompanhar. Quando prioridade são os seus anseios e por isso você ignora totalmente o que seu pai, namorado ou amigo quer fazer. The Age of Selfishness.
Então, tá! É cada um por si agora!
Não. Não é não. Não dá pra conviver só com o próprio umbigo.
Cada ato nosso reflete na vida de alguém. Meio efeito borboleta mesmo. E, se eu estivesse certa e o mundo fosse feito só de pessoas egoístas, seria insuportável.  Tá bom que tem aquele energúmeno que estaciona em fila dupla e te deixa presa no estacionamento 40 minutos porque, afinal, acha que é o dono da rua. Mas, tem aquela pessoa que se compadece de você e, mesmo sem te conhecer, fica lá debaixo do sol tentando pensar em alguma alternativa pra te ajudar.
Tem quem se aproxime de você por interesse ou conveniência. Mas tem o tio do churros que te dá colheradas generosas de doce de leite só pra matar sua vontade, sem pedir nada em troca.
Tem a sua operadora de telefone que sempre inventa taxas e nunca resolve o seu problema - pelo contrário, sempre te cria problemas. Mas tem aquele garçom que sempre te dá dicas dos melhores partos, te atendente prontamente, sempre sorrindo e faz valer os 10%.
E quando você se arrebenta num acidente de carro e estranhos param te oferecer ajuda, para te levar pro hospital ou para ficar com você sentada na sombra até sua mão parar de tremer... é aí que você se dá conta de que o mundo não é feito só de Jaquelines.
Os bombeiros, os PMs, os estranhos que trocaram a corrida no parque pra ajudar uma estranha, a minha querida redação... todos me mostraram que a humanidade ainda é humana. E, no final das contas, acho que aquela pancada toda foi era pra isto: uma tapa na cara, [ou, pra ser mais literal, um ricochete nas costas] pra mostrar que sim, toda regra tem exceção. E a regra é ser bom!  As Jaquelines – e aqueles que a absolveram – são as exceções.
São essas pequenas grandes coisas que fazem a diferença. Então, se dá para ser gentil, se dá para ajudar, se dá para ser justo, se dá para oferecer a mão... façamos. 
Lembrando que, oferecer a mão não é passar a mão, queridos parlamentares. Assumir as conseqüências dos atos faz parte do viver em sociedade, já que o pato sempre sobra para alguém. Portanto, assuma o seu.
E, se não tiver dormido pelo menos cinco horas de sono, não dirija.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Não tem ninguém aí! Ninguém tá nem aí!

Constantemente na vida a gente se engana com as pessoas. Normal. A gente cria expectativas espera demais e acaba quebrando a cara. Acha que pode contar e quando precisa... oi? Tem alguém aí?
Tem não! Não tem ninguém. Cada um cuidado da sua própria vida, em busca da própria felicidade, tentando resolver os próprios problemas e postando fotos felizes no facebook .
Não adianta apelar. Nem pressionar. Nem exigir. As pessoas estão onde querem estar. Melhor: as pessoas estão onde escolhem estar. Porque às vezes não é a vontade e sim a falta dela que mantém as pessoas no lugar onde estão.
Decepção faz parte da vida. Sinal de que você ainda não aprendeu que as pessoas não são como você e não reagem como você. Sinal de que suas expectativas estão altas demais.
Então, como faz?
Esperar menos?  Não esperar?
O risco é se tornar um ser isolado. Que não espera nada de ninguém e por isso também não se doa pra ninguém.
Aí também é chato!
Não tem antídoto indolor contra a decepção. A blindagem sentimental protege, mas enrijece o coração e esfria tudo lá dentro.
O jeito é escolher: dar a cara à tapa e se preparar para as cusparadas, ou travestir uma máscara de ferro e se contentar com a companhia gélida do metal.
Todo mundo acaba preferindo o risco. Até porque dá para se poupar de conviver com as pessoas do lado de fora. Mas, e o lado de dentro? Como evitar a convivência com as várias pessoas que moram dentro da gente?
A decepção pessoal e particular é um pouco mais difícil de engolir. Porque aí, não tem como culpar outra pessoa. É tu mesmo, minha cara. Na cara.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Paquera, Gertrudes!

Gertrudes sempre ouviu as pessoas dizerem que a academia era um dos melhores lugares para paquerar.
Não para ela.
Gertrudes entra na academia, faz o que tem que fazer, e sai da academia. Não que ela não repare nos moços bonitões. Ela repara. Ela repara até em como as pessoas estão emagrecendo. E desenvolve conceitos sobre a orientação sexual dos homens de acordo com a roupa que eles escolhem e da pose que eles fazem enquanto levantam todo o peso possível no supino reto.
Mas paquerar... Gertrudes nem sabe como se paquera. Ainda mais toda suada e preocupada se a barra de chocolate que ela comeu depois do almoço será eliminada com 15 minutos de corrida na esteira.
Entre um pensamento e outro ela dá umas olhadinhas pro moreno alto de barba serrada com calça preta e blusa vermelha que se esforça no sobe e desce da panturrilha. Mas ela faz tudo de forma milimetricamente coordenada para ele NÃO perceber que está sendo observado.
Justamente o “contra-objetivo” da paquera.
Mas Gertrudes é assim. Nunca aprendeu a paquerar, coitada. Aprendeu gramática, biologia, se esforçou para compreender física. Agora, paquerar que é bom, paquerar que é útil pra vida, nunca ninguém ensinou.
Na época em que as pessoas começam o intensivão de paquera - naquela puberdade dos 13 anos - Gertrudes era completamente míope. A 200 metros de distância, não conseguia distinguir um menino de um boneco de palha.
E quando conseguia também não tinha coragem de encarar. E quando experimentava sempre fazia uma cara meio de brava, pra poder enxergar melhor, o que acabava espantando os bonecos de palha.
Se a situação era inversa,  quando alguém se mostrava disposto a paquerar Gertrudes, ela nunca sabia como agir. Sempre achava que o cabelo desgrenhando ou a espinha na testa era o motivo do olhar fixo do rapaz. Quando criava coragem pra corresponder, procurava algum motivo nele pra desistir: o topete de pagodeiro, o sapato branco de médico, os menos de 1,80m.
Quando queria, Gertrudes enxergava muito bem.
E enquanto corria na esteira ficava pensando o quanto seria mais prático se o moreno alto de barba serrada fosse falar com ela. Porque ele não tinha topete, usava tênis e tinha mais de 1,80m.
- Oi! Sou eu o escolhido! Não precisa mais se forçar a sair por aí nos sábados à noite pra tentar fazer uma coisa que você não sabe. Não precisa me paquerar. Nós somos feitos um para o outro.
Mas dar um tiro de cinco minutos a 10km/h na esteira cansa e a falta de ar traz Gertrudes de volta a realidade. Ela sai da esteira e vai pegar um halter pra tentar acabar com o “tchauzinho” do braço.
E vejam só quem está lá, pertinho do banco que Gertrudes quer usar. O moreno alto de barba serrada.
- Você tá usando aqui?
- Oi?
- Você tá usando aqui?
- Não!
E Gertrudes começa sua série de 20. Esse é o máximo da paquera que ela alcança na academia.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vou fazer o quê? Vou matar?

Há um ditado popular que diz que pra tudo na vida há solução, menos pra morte.
E quando a morte vira a solução?
Essa semana um morador de Formosa-GO, cansado de ser roubado, decidiu armar uma arapuca para pegar o ladrão com a boca na botija. Pegou o gatuno com o pé na ratoeira e um tiro no peito. Impediu o nono assalto a residência dele. E tirou uma vida. Resolveu?
Esse mês arrombaram meu carro duas vezes. Sem estepe, sem celular, sem meu material de inglês. O que eu posso fazer? Nada!
O malandro ainda pode fazer algumas coisas, aprender uma nova língua por exemplo. Mas, a essa altura, meu livro deve estar em algum lixo por aí. Ou foi fumado pela galera da gangue. Ou foi usado para enrolar o pó vendido nas quebrada.
E quem poderia, de fato, fazer alguma coisa parece não estar muito afim não.
Dois dias depois de levarem meu celular eu vi, no centro de Taguatinga, um cara, com a camisa do Flamengo, com cinco aparelhos na mão, vendendo cada um por R$ 50,00. A cerca de 300 metros dali uma viatura da PM e dois agentes do lado de fora. Fazendo o quê? Esperando o plantão acabar, talvez.
- Ô moço! Você não tá vendo aquele cara lá não? Faz alguma coisa! Vai lá perguntar se ele tem nota fiscal desses celulares aí! Vai lá perguntar se ele tem pelo menos o carregador desse celulares! Vai lá me provar que esses celulares não são roubados!
Foi isso que eu tive vontade de gritar na cara deles. Mas, respirei fundo, recolhi tudo na gastrite e engoli a raiva. Porque era bem capaz do moço querer me levar por desacato, já que eu só tinha R$ 5,00 na carteira e eles iam querem pelo menos mais R$ 95,00 pra se fingirem de cegos/surdos/mudos e me liberarem.
A situação é exatamente igual na política. A diferença é a quantidade de zeros à direita. E eles não negociam celulares, negociam contratos, licitações, a abertura da Copa do Mundo...
Não tem pra onde correr não. Se não é de um lado e do outro. Se não é o carro arrombado, é o dinheiro do imposto desviado. Se não é o celular, é o contrato milionário do DNIT.
E aí? Vai fazer o quê? Vai matar?
Dona Edith prefere inducar.
Eu, sinceramente, acho que não tem jeito não. Contrariando o ditado popular, acredito que pra tudo na vida tem solução, menos pra morte, para corrupção, pra hemorróidas e para banda Restart.
Não é drama, porque eu não estou aqui dramando nada. São só as condições em que a gente vive.” – Edith Maria Manuelina Tarabetina Capitulina de Jesus Amor Divino

sábado, 16 de julho de 2011

Assim nasceu o rock 'n roll

Numa época em que o mundo era feito de Backstreet Boys e Spice Girls fui, de repentemente, apresentada à Legião Urbana.
"Eduardo e Mônica" chegou a mim como se fosse a história invertida de uma prima que, apaixonada, se via como o jovem e inocente Eduardo nas mãos de seu já universitário primeiro namorado, o Mônica. No auge dos meus 12 anos, achei toda aquela história um máximo – não a música, mas a primeira paixão da minha prima.
Da música eu gostei também. Parecia uma historinha vespertina daquelas que eu via em Malhação todos os dias antes de encarar a apostila de matemática – minha única inimiga naquele tempo pueril.
Foi o meu primeiro contato com aquele barbudo de Brasília. Foi só então que eu descobri que ele tinha outros versos além de “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” – que passava todo ano no jornal local para homenagear o moço no aniversário de morte dele.
Mas o melhor ainda estava por vir. Enquanto minha prima me contava as aventuras amorosas, o “Mais do Mesmo” ia rolando. Até que ouvi os primeiros acordes de “Faroeste Caboclo”.
- Essa música tem quase nove minutos! – informou minha prima.
Oi? Uma música como nove minutos? Quantas vezes ele repete o refrão?
E aí eu não ouvia mais nada do lado de fora. Totalmente concentrada naquela letra e visualizando perfeitamente cada cena daquela história. Quase nove minutos de uma viagem ao faroeste de Santo Cristo.
“... e nem protejo general de 10 estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão...”
Ele falou cu? Pode gravar música com palavrão?
“... olha pra cá filho da puta sem vergonha, dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão...”
É... pode gravar música com palavrão.
A música acabou e eu só pensava que tinha que ouvir aquilo de novo. Tinha que aprender a cantar aqueles quase nove minutos com tantos palavrões.
Há 12 anos o Google ainda não bombava. Na verdade, eu nem sabia que internet existia. E sem o vagalume.com, a única forma que eu encontrei de decorar a saga de João foi transcrevendo toda a letra. Ouvia, dava pause, escrevia o verso, e play de novo. Foi assim até o “para ajudar toda essa gente que só faz sofrer”.
Não lembro quanto tempo levei pra terminar, mas sei que minha diversão durante o resto do dia foi ouvir a música um milhão de vezes, acompanhando a letra que eu escrevi no papel que meu avô usava para embrulhar os remédios que ele vendia na farmácia.
O rock nasceu em mim há 12 anos, numa cidade do interior de Goiás, durante a temporada das férias de julho na casa da vovó.
As aulas recomeçaram e eu voltei pra Brasília imaginando como teria sido bom ver uma apresentação da Legião Urbana. E a essa altura o “Mais do Mesmo” não saia mais do disck man.
O show das Chiquititas deu lugar ao show do Capital Inicial “acústico MTV”,  o meu primeiro show de rock – sim, Capital Inicial era rock. Agora é que eles estão nessa pegada meio emo. Mas o “acústico MTV” continua no meu carro.
O rock internacional ficou por conta do meu primo roqueiro. Ele se encarregou de me apresentar Link Park, Pearl Jam, Aerosmith, Radiohad, Jimmy Hendrix... eram tardes e tardes ouvindo rock, pegando CDs emprestados e sendo a platéia do primo roqueiro tocando guitarra. Tardes de julho na casa da vovó.
Nesse ritmo, em três anos eu já era grunge, amava Nirvana e odiava Courtney Love. Os Backstreet Boys derma lugar ao Red Hot Chili Peppers, eu só andava de all star e queria aprender a tocar bateria... mas, essa já é outra história,

* 13 de julho - Dia Mundial do Rock *

domingo, 10 de julho de 2011

Le freak c'est chic!

O auto-controle às vezes  é dispensável.
Gertrudes é uma menina bastante controlada. Ela é sensata, engole as coisas que tem vontade de falar pensando na boa convivência, escuta calada críticas de pessoas mais velhas, por mais que tenha vontade de gritar um sonoro APA, e nunca chora na frente de ninguém. Deixa pra fazer isso sozinha, quando as lágrimas se confundem com a água que cai do chuveiro e ela finge pra si mesma que não está chorando. Não por “aquilo”.
Gertrudes é daquelas que tem medo de perder o controle. Mais que isso, ela tem medo de se mostrar fraca, de se perceber fraca. Porque Gertrudes sempre criticou os fracos. Porque Gertrudes sempre foi vista como forte.
Mas Gertrudes não era forte. A capa que ela sustenta sim, é uma fortaleza. Nunca se abala, passa por tudo como se nada a atingisse.
Caiu? Levanta!
Tropeçou? Finge que nada aconteceu e continua andando, por mais que a unha do dedão do pé esteja sangrando, dividida em duas!
E foi assim por longos anos. Sempre que a “Gertrudes Frágil” - aquela que tem vontade de chorar, de pedir colo, de pedir ajuda - ameaça aparecer e dominar a “Gertrudes Forte”, ela parava, respirava fundo...  e a razão sempre trucidava a emoção, passando por cima com todos os tanques de guerra e obrigando os sentimentos a se refugiarem, a se asilarem num canto bem espremido do coração.
Mas, um dia a “Gertrudes Frágil” ficou de saco cheio de ser ignorada e decidiu ditar as regras do jogo pelo menos uma vez. 
A Forte refletiu que já tinha bebido demais. Mais um copo e o controle, tão valorizado por ela, poderia escapar de seu domínio. Mas a Frágil queria mais um copo, a Frágil queria ser livre naquele dia. A Frágil estava cansada de servir como bom exemplo na família e se arrependia de não ter imposto sua vontade quando a Forte decidiu aceitar aquela rótulo de boa menina que ganhou logo cedo. Não que ela não fosse uma boa menina. Ela até era. Mas não sempre. Ela queria ter a liberdade de ser a menina má quando sentisse vontade.
E, bebeu mais copo.
E outro.
E mais um.
Quando se deu conta, estava no controle. A Forte nunca foi forte pra álcool. Uma dose a mais e ela apagava. A Frágil estava, pela primeira vez em muito tempo, dominando toda aquela máquina. Podia falar o que quisesse, chorar o quanto quisesse, gritar o mais alto que pudesse.
Ela falou muito. Gritou um pouco. Dançou, riu, apontou o dedo e, quando deu vontade de chorar, ela decidiu que estava na hora de ir embora. Porque chorar na frente do outros já é um pouco demais. “O que a Gertrudes Forte vai pensar de mim?”
A Forte era tão forte que mesmo alcoolizada dominava a Frágil sem ela nem perceber.
Cuidado, Getrudes! Todo mundo que se controla demais, mais cedo ou mais tarde vai acabar tendo um surto psicótico como o Charlie em “Me, Myself & Irene”. Um dia, o Hank reprimido fica cansado de apanhar e decide bater um pouco.  Porque revidar pode não resolver, mas ajuda a libertar.