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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Cortisol maternalmente alterado

Um ano, seis meses e um filho depois: voltei!

Escrever sempre foi um escape. E é disso que eu mais preciso agora. Como quase tudo na vida, o tempo disponível para me dedicar é inversamente proporcional à vontade, mas nesse sexta-feira seca de agosto, decidi aproveitar o precioso sono do MM para voltar aqui.

Quando se tem um bebê tudo que era muito simples vira um jogo de xadrez. (e eu não sei jogar xadrez.) Atividades triviais do dia a dia, como fazer coco, passam a ser momentos muito especiais e entram na lista "o que fazer quando o bebê está dormindo".

(tem também a lista o que fazer quando tem alguém por perto com quem ele se dê bem e tope ficar no colo por mais de cinco minutos sem testar todos os agudos que é capaz de fazer)

Além de fazer coco, comer e dormir, recentemente coloquei "ler" nessa lista. E agora, escrever.


Transar? Não?

Isso aí dá muito trabalho. E pode acordar o bebê.

NINGUÉM quer acordar o bebê.

As prioridades mudam. Fato.

Aliás, não há uma área da vida que sobreviva intacta à chegada de um bebê. Eu diria que do corpo também não. Desde a gravidez é uma rave de hormônios dentro da gente. Ninguém passa incólume.

Não, a sua mãe não passou. A sua avó que tem 20 filhos também não. Elas só não podiam falar sobre isso.

Ninguém admitia estar exausta, nem revelava que sentou na beirada da cama e chorou de desespero junto com o bebê. Afinal, todas nasceram para ser mãe e o instinto maternal é quase um super poder não é mesmo?

Não!

Looooonge disso.

O privilégio da minha geração é ter liberdade para falar - não sem o risco de ser chamada de bruxa, mas, foda-se. Entender que somos humanas, falhas e indivíduos antes de ser mãe ajuda a passar pelo vale do puerpério. A gente se permite mais. E se acolhe mais.

Obrigada, feminismo!

Ainda assim, é desafiador. Muito do que era não é mais, e não por não querer ser - quer muito ser - mas, não pode mais. E muito do que precisa ser ainda não é - não por não querer ser, mas por não saber como.

Não é só o bebê que está aprendendo. A mãe nasce junto com ele. Antes, não tinha nada no lugar - um imenso espaço livre para realizar todas as próprias vontades, dormir nas tardes de domingo, viajar de trem com uma mochila nas costas, fazer o coco matinal e transar sem calcular quanto tempo de sono está perdendo.

Agora, todo esse espaço está ocupado por um serzinho pequeninnho, dois olhinhos curiosos por descobrir o mundo, um sorriso banguela, duas maozinhas cheia de furinhos e um amor que não cabe.

Só tem cinco meses. Aprendi mais que em 32 anos.

(engordei também. e fiquei careca. e tive crise de ansiedade. vários temas para os próximos soninhos de MM).