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quinta-feira, 29 de julho de 2021

Esse é pra você

 Esse vai para você que, há algum tempo, vem dizendo:

tá foda!

Para você que está exausta
sozinha
sobrecarregada

Pra você que, além da jornada de trabalho,
tem o cesto de roupa suja lotado,
a panela de molho te encarando na pia
e a culpa martelando por não dar mais atenção à cria

Pra você que lida com a inflação,
com o preço do bujão,
os boletos que não param de chegar
e a dor na lombar

Esse vai pra você que, de manhã, se pergunta se vai conseguir
e no fim do dia, se pergunta como conseguiu
Num ciclo infinito
que um dia se revela
no vinco da marca de expressão estampada na testa

Esse vai para você que queria ser vista
Queria uma mão estendida
Ou pelo menos alguém para cuidar da comida

Parece que ninguém vê
Que ninguém entende
Que ninguém se importa

Então,
não mesmo.

Esse é pra você,
pra te dizer que não podemos mais esperar alguém se importar

Ninguém está vindo
Salve a si mesma!

Olhe pro espelho,
para além da marca de expressão da testa
Tá foda! Tá muito foda!
E você está viva!
Só você sabe o trabalho da porra que dá se manter viva
Fazendo tudo isso aí
Que ninguém vê, mas que movimenta o mundo

O seu mundo
O da sua cria
O dos seus sonhos

Isso é gigante!
Parabéns!

E que você encontre uma forma de se reverenciar
De não se abandonar
Já basta o mundo lá fora


Cuide-se do jeito que você merece

E no fim do dia,
chorando no chuveiro,
pensando no que vai ser do seu cabelo
e das contas pra pagar
Lembre-se pelo menos de se abraçar.

Foi foda, mas vencemos mais um!

sábado, 17 de julho de 2021

Poder cinético do som

 Um mês sem passar por aqui. Não por falta de assunto.

A vida nunca esteve tão cheia. Ou a percepção da vida nunca foi tão acurada. Ou as duas coisas.

Quando é difícil organizar as ideias na cabeça, eu geralmente recorro às palavras no papel. Ultimamente tenho recorrido ao vinho. E ao leite condensado. A minha gastrite vive me criticando mas é o que está dando pra fazer, por ora.

Estamos há 16 meses testando estratégias. Novas formas de viver. Ansiando por vacina, tendo ânsia ao ler notícia, oscilando entre o desespero e a esperança. Normal dar uma sucumbida quando o pêndulo passa naquele vale entre um extremo e outro.

Às vezes, fica aquele ‘pra lá e pra cá’ lá embaixo. “Será que vai parar?”

Não entendo muito (na verdade, quase nada) de Física, mas parece que a conservação da energia mecânica é o que garante a constância do pêndulo.


Por aqui, eu simplifico em música.

Sabe aquelas que te remetem imediatamente a um lugar especial, uma ocasião marcante ou uma época boa?

A música é a responsável pela conservação do movimento e da energia do pêndulo de Newton aqui da minha vida.

O poder cinético do som.

Por exemplo, no exato momento em que escrevo essa frase ouço “Cheio de Manias”, do Raça Negra. E isso desperta em mim inúmeras boas lembranças que derramam no cérebro a serotonina necessária para sensação de bem-estar.

Tem Caetano, Red Hot, Backstreet Boys e Paralamas nessa playlist. Tem Alicia Keys, The Weeknd, Art Popular e Tim Maia. Tem Cartola, Vanessa da Mata, Beatles e, mais recentemente, uma musiquinha instrumental de ninar que me remete imediatamente a MM nos primeiros meses de vida e me faz chorar instantaneamente. Chorar de emoção boa!

E já tem até música que eu ouço agora e sei que lá na frente vai me remeter a essa época louca que, apesar de louca, vai despertar algo bom.

Nas minhas estratégias para seguir tem vinho, tem leite condensado e tem muita música.

(e café)

É isso que mantém meu pêndulo em movimento por aqui.

E por aí? O que impulsiona o seu?