Uma amiga foda comentou comigo que estava se sentindo medíocre. Alegou ter se dado conta de que não estava fazendo um bom papel como mãe.
Ela tem dois filhos bebezucos. E trabalha fora. E banca a casa sozinha porque o marido está sem emprego.
E se acha medíocre.
Qual a régua dessa mulher?
A de quase todo mundo atualmente: o maravilhoso mundo das redes sociais.
Esse universo paralelo em que as mães estão sempre impecáveis e os filhos sorridentes.
Onde não há olheiras, nem dor de barriga. Onde não há choro compulsivo de madrugada nem socos no colchão quando o bebê desperta pela quinta vez na madrugada.
Onde não há boletos vencidos. Onde os casamentos são perfeitos. Todos os casais se amam loucamente e o tempo todo. E fazem viagens incríveis nas férias. Românticos. Bronzeados na praia ou bem vestidos no inverno de um lugar onde se bebe em euro.
Onde casal é quem casa e tem foto de noiva no instagram.
Nesse lugar onde ninguém bate porta. Onde não tem uma mulher indignada com parceiro que ainda acha que ser pai é levar os meninos pro play por 15 minutos no fim de semana.
Nesse lugar onde não tem mãe solo exausta por levar tudo nas costas.
((aqui, aviso, incluem-se as mães solos casadas. tem aos montes na vida real. nas redes sociais não. todas encontraram homens incríveis, que revezam as madrugadas e ficam com o bebê pra mãe ir fazer pilates))
O mundo intangível das redes sociais está fazendo um monte de gente foda se achar meio bosta.
A vida real não é de açúcar. A maternidade real é pauleira. Vai muito além de fotos produzidas amamentando, que as famosas ostentam de olho nos likes, mas "vendendo" campanha pró aleitamento materno.
E aí, quem chora de dor ao amamentar se acha meio bosta. Quem não tem leite e esquenta mamadeira de madrugada se acha meio bosta.
Pois, saiba: você foda!
Você, que levanta a noite toda, mal dorme e sai pra trabalhar no outro dia sem café da manhã: você é foda!
A famosa que ganha café na cama do marido e posta foto apaixonada também deve ser. Mas, nem mais nem menos que você!
Você, que se sente sozinha, que esperava mais divisão de tarefas, mas empatia, mais sensibilidade. Não espere o mundo te dizer isso, porque não vai, mas saiba: você é foda!
Diga pra si mesma. Reconheça pra si mesma. Você, depois de virar mãe, faz coisas inimagináveis. Você é muito foda!
Encaixou na sua rotina, que já era maluca, os cuidados de um serzinho totalmente dependente. E continua dando conta. Você é foda!
Mas, também está sobrecarregada. Fato.
A ideia aqui não é naturalizar a exaustão. Ao contrário, é reconhecê-la. Pra poder entender que você está fazendo mais do que aguenta, e por isso é foda. Jamais medíocre.
E vamos criar meninos cada vez mais participativos e responsáveis, e meninas cada vez mais conscientes do poder que elas têm.
Que seu 2020 seja foda! Na vida real!
