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domingo, 19 de julho de 2020

Desmamando a mãe

Depois de 16 meses com privação de sono, com uma pandemia no meio e confinada há 120 dias, dormir uma noite inteira passou a ser um sonho de consumo.

MM sempre mamou em livre demanda. De dia, de tarde, de noite, de madrugada. Nunca dormiu uma noite inteira (pelo menos até agora, vai que hoje é o grande dia?). Aos seis meses, iniciamos a introdução alimentar. Continuou mamando à vontade por mais um mês, até minha licença-maternidade acabar e eu voltar ao trabalho.

De um dia pro outro, o open bar de "mamá" ficou bem regulado. Eu deixava leite para ele tomar na mamadeira uma vez ao longo do dia. Quando a gente se encontrava, por volta das 16h, retomávamos o ciclo.

Até que o coronavírus começou a girar no planeta Terra e chegou o home office. Open bar liberado de novo.

Ele mamava durante o dia e acordava pelo menos uma vez no meio da noite. Não era fome, eu sei. Mas, você já tentou ninar um bebê às 3h da madrugada? Com ele sentindo o cheiro do leite no seu colo? Eu achava BEM mais fácil amamentá-lo e dormir junto com ele.

Deu certo pra gente. Até não dar mais. Até eu me sentir muito exausta e querer dormir em qualquer posição por pelo menos cinco horas seguidas.

Foi então que o famigerado desmame noturno começou a passar pela minha cabeça. Uma rápida pesquisa no Google e você encontra um monte de dicas absurdas, ainda que vendidas como "desmame gentil".

Um monte de receitas mágicas que desconsideram completamente a realidade e uma mãe solo, por exemplo. 

"Não, não tem ninguém para acalmar o bebê quando ele acordar no meio da madrugada. É a mãe com o peito cheio de leite mesmo".

((Aqui vale lembrar que tem muita mãe solo casada.))

E assim, cedi na primeira tentativa. Muito choro e muito sono pra pouca disposição.

Decidi mentalmente mais algumas vezes até que conseguir colocar em prática de fato.

Noite 1: quase três horas de choro ininterrupto. Estresse. Das duas partes. Desespero. Das duas partes.

Quando o dia raiou, com o peito explodindo de leite, a minha maior vontade era amamentar. Mas, eu pensei que liberar de dia e proibir de noite poderia gerar uma confusão na cabeça do MM. "Quando pode e quando não pode?"

E assim, de repente, meu filho tinha mamado pela última vez na noite anterior. E eu nem sabia. 

Estamos nesse processo. E eu estou arrasada. Mais que MM.

Eu gosto de amamentar. Acho lindo vê-lo adormecer. Adoro o carinho que ele também me dá. Adoro a nossa troca. E não estava preparada pra isso.

No primeiro dia eu senti que ele iria me odiar. Pediu algumas vezes, afinal, tínhamos uma rotina... um ritual. Que se quebrou.

Tirei o leite. Ele tomou na mamadeira. E a noite 2 foi mais tranquila: acordou umas 15 vezes, mas aceitava a realidade de dormir sem "mamá".

Na noite 3 ele nem quis o leite da mamadeira. E a produção em mim caiu consideravelmente. 

Eu... bom, eu sigo chorando toda vez que lembro que nossos momentos acabaram. E tento me consolar pensando que vamos construir outros.

Pode soar drama de mãe leonina. Mas, é doído mesmo.

Coisa doida é esse tal de ser mãe.