Eu gosto de filmes.
Ponto.
Tenho preferência por alguns gêneros e antipatia por outros, mas vejo tudo.
Tá, tudo não. Tem alguns que não dá mesmo. Mas, são poucas as recusas.
Até porque, uma pessoa que compra Calígula achando que vai ver um filme histórico (em minha defesa, digo que não deixa de ser um retrato “quente” da História) não pode ser acusada de não ser, pelo menos, curiosa.
Tenho preferência por alguns gêneros e antipatia por outros, mas vejo tudo.
Tá, tudo não. Tem alguns que não dá mesmo. Mas, são poucas as recusas.
Até porque, uma pessoa que compra Calígula achando que vai ver um filme histórico (em minha defesa, digo que não deixa de ser um retrato “quente” da História) não pode ser acusada de não ser, pelo menos, curiosa.
Na verdade, uma pessoa
que compra Calígula com tanta naturalidade só pode estar enganada mesmo. E sim, eu tenho vergonha desse
episódio.
Mas, deixando os
imperadores romanos libidinosos de lado, o fato é que esse amor por cinema
as vezes me faz refletir se o filme mais louco de todos não é o nosso. Porque sempre
tem uns momentos na vida que eu paro e penso: e se isso aqui fosse um filme?
Por exemplo, se neste
exato momento isso fosse um filme, eu estaria belíssima,
escrevendo algo genial num nootbook da marca do patrocinador, com uma luz
incrível para disfarçar as marcas de espinha do rosto, e receberia um whatsapp
que me deixaria atordoada (para o bem ou para o mal). Aí, eu não conseguiria
mais escrever, levantaria diva e...
Corta para a próxima
cena!
Mas, na verdade eu
estou descabelada, escrevendo no notebook do meu pai, porque o meu morreu,
ouvindo Criolo (pensando no que eu faço com esse meu amor por ele) e refletindo
sobre os vários minifilmes que acontecem na vida. Pode chegar o whatsapp que for e nada vai mudar o fato de que eu perciso ir trabalhar em algumas horas - sem glamour.
Se
eu dirigisse o meu filme, algumas cenas teriam um desfecho
diferente
Sabe aquele poder de
gritar “corta!”, todo mundo pára, refaz a marcação e recomeça? Então, eu queria isso em alguns momentos.
Tenho falas prontas
para várias ocasiões e para vários personagens. Mas, não dirijo a vida de
ninguém. Nem a minha.
Porque, na verdade, as
melhores falas vêm depois que o momento passou. Aí, não dá para gritar “corta!”
e pedir para rodar de novo “porque agora eu sei exatamente o que falar!”
– e sei também o que você precisa responder para dar sequência à cena que eu
criei na minha cabeça.
Quer um exemplo?
No meu filme, o Criolo
se apaixonaria por mim.
Tá, esse é o ápice do
devaneio de uma mulher que passou a adolescência assistindo a comédias
românticas hollywoodianas – somente por esse último fato Criolo já me
desprezaria.
Mas, também crio filmes
mais reais, mais baratos, mais tangíveis. Privilegiando o plano detalhe,
filmando tudo com uma câmera – duas, no máximo: a minha e a sua. Trilha sonora
brasileira, diálogos rápidos, falas curtas, decisivas.
O problema é que você não
tem o meu roteiro. Não sabe as suas falas, não reconhece as minhas deixas, e
sai de cena antes de terminar a gravação – sempre antes de terminar a gravação!
Aí, parece que o filme
acaba sem final. Fica aquela expectativa da continuação. Quando será que
estreia a sequência?
E vai ter sequência?
Às vezes, o filme é um
fracasso de público e, mesmo sem uma desfecho conclusivo, cancelam a “parte
dois”. Às vezes, os atores morrem – ou se mudam – e não dá tempo de filmar a
continuação. Mas, claro, atores podem ser substituídos.
E a gente vive
substituindo personagens nos nossos minifilmes. Até porque, as vezes o ator nem
sabe que está fazendo parte do nosso roteiro. Ou até sabe, mas não imagina que
ganhou um dos papéis principais – e continua atuando como figurante, e errando
as falas, e indo embora antes da cena terminar.