Páginas

terça-feira, 28 de abril de 2015

Luz, câmera, AÇÃO

Eu gosto de filmes. Ponto.
Tenho preferência por alguns gêneros e antipatia por outros, mas vejo tudo.
Tá, tudo não. Tem alguns que não dá mesmo. Mas, são poucas as recusas.
Até porque, uma pessoa que compra Calígula achando que vai ver um filme histórico (em minha defesa, digo que não deixa de ser um retrato “quente” da História) não pode ser acusada de não ser, pelo menos, curiosa.

Na verdade, uma pessoa que compra Calígula com tanta naturalidade só pode estar enganada mesmoE sim, eu tenho vergonha desse episódio.

Mas, deixando os imperadores romanos libidinosos de lado, o fato é que esse amor por cinema as vezes me faz refletir se o filme mais louco de todos não é o nosso. Porque sempre tem uns momentos na vida que eu paro e penso: e se isso aqui fosse um filme?

Por exemplo, se neste exato momento isso fosse um filme, eu estaria belíssima, escrevendo algo genial num nootbook da marca do patrocinador, com uma luz incrível para disfarçar as marcas de espinha do rosto, e receberia um whatsapp que me deixaria atordoada (para o bem ou para o mal). Aí, eu não conseguiria mais escrever, levantaria diva e...

Corta para a próxima cena!

Mas, na verdade eu estou descabelada, escrevendo no notebook do meu pai, porque o meu morreu, ouvindo Criolo (pensando no que eu faço com esse meu amor por ele) e refletindo sobre os vários minifilmes que acontecem na vida. Pode chegar o whatsapp que for e nada vai mudar o fato de que eu perciso ir trabalhar em algumas horas - sem glamour.

Se eu dirigisse o meu filme, algumas cenas teriam um desfecho diferente

Sabe aquele poder de gritar “corta!”, todo mundo pára, refaz a marcação e recomeça? Então, eu queria isso em alguns momentos.

Tenho falas prontas para várias ocasiões e para vários personagens. Mas, não dirijo a vida de ninguém. Nem a minha.

Porque, na verdade, as melhores falas vêm depois que o momento passou. Aí, não dá para gritar “corta!” e pedir para rodar de novo “porque agora eu sei exatamente o que falar!” – e sei também o que você precisa responder para dar sequência à cena que eu criei na minha cabeça.

Quer um exemplo?

No meu filme, o Criolo se apaixonaria por mim.

Tá, esse é o ápice do devaneio de uma mulher que passou a adolescência assistindo a comédias românticas hollywoodianas – somente por esse último fato Criolo já me desprezaria.

Mas, também crio filmes mais reais, mais baratos, mais tangíveis. Privilegiando o plano detalhe, filmando tudo com uma câmera – duas, no máximo: a minha e a sua. Trilha sonora brasileira, diálogos rápidos, falas curtas, decisivas.

O problema é que você não tem o meu roteiro. Não sabe as suas falas, não reconhece as minhas deixas, e sai de cena antes de terminar a gravação – sempre antes de terminar a gravação!

Aí, parece que o filme acaba sem final. Fica aquela expectativa da continuação. Quando será que estreia a sequência?

E vai ter sequência?

Às vezes, o filme é um fracasso de público e, mesmo sem uma desfecho conclusivo, cancelam a “parte dois”. Às vezes, os atores morrem – ou se mudam – e não dá tempo de filmar a continuação. Mas, claro, atores podem ser substituídos.

E a gente vive substituindo personagens nos nossos minifilmes. Até porque, as vezes o ator nem sabe que está fazendo parte do nosso roteiro. Ou até sabe, mas não imagina que ganhou um dos papéis principais – e continua atuando como figurante, e errando as falas, e indo embora antes da cena terminar.

Desconfio que, nesses casos, a culpa é do diretor. Woody Allen jamais deixaria isso acontecer. Por isso, talvez, eu seja meio incompetente como diretora. Mas, garanto que os meus roteiros são ótimos – o problema (?) é que a vida não faz muita questão de segui-los.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Plágio sem sentido

Tem horas que dá vontade de escrever uma música
Mas, nunca consegui compor nenhuma canção
Também nunca tentei
Acho melhor escrever sem o compromisso do sentido
E as músicas precisam fazer sentido
Pelo menos para quem escreve
Ou não?

E já tem ótimas músicas que representam um pouco de tudo agora
Se juntasse algumas estrofes, sem o compromisso do sentido
Lenine, Caetano, Ramalhão, Marisa e Simonal fariam parte do meu plágio
Porque, no momento, tenho sentido saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi, pensando em nós dois
Nós dois quem?

É que o tempo deixa tudo muito grande, ou muito pequeno
E como falta pouco tempo para o tempo acabar
Faço uma oração: peço o prazer legítimo e o movimento preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo
Quando o tempo for propício
Quanto tempo a gente tem?

Como é fácil se perder tentando achar respostas
Tem fases em que eu desisto de perguntar
Prossigo cantando, beijando o espaço
E além do cabelo que desembaraço
Invoco as águas para inundar o pensamento
E lavar pessoas e coisas que vão se arrastando
Por que tão arrastado?

Até que chega aquele momento
Que o barulhinho que o tempo faz no peito pede para ser ouvido
A gente decide fazer a dor dançar
E prestar atenção para escutar o que quer saber de verdade
A verdade dói?

Aí, suspende a vida real
Procura novas perguntas
Paga pra ver
Pede emprestado alguns versos famosos
E sacudim, sacundá, sacundim, gundim, gundá
Mesmo que não faça nenhum sentido
Entende?



domingo, 5 de abril de 2015

O valor da notícia

Um ataque terrorista matou 12 franceses no início do ano, em Paris.
Chefes de Estado do mundo todo se pronunciaram repudiando o ato. Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, se pronunciou no mesmo dia condenando o ataque contra a Charlie Hebdo. A imprensa do mundo todo cumpriu seu papel e informou quem, quando, onde, como e porque.

Dias depois, milhões de europeus estavam mobilizados nas ruas da Cidade Luz pedindo justiça e paz.

Tá certo! Não dá para admitir a banalização da vida!

Na semana seguinte, um ataque do Boko Haram deixou 2 mil mortos na cidade de Baga, na Nigéria.

...
...
...

Onde fica Baga?
O que é Boko Haram?

Um avião com destino à Alemanha caiu nos Alpes franceses deixando todas as 150 pessoas a bordo mortas.
Em questão de horas, jornalistas de todas as partes do mundo estavam em Meolans-Revel, o vilarejo remoto no sul da França onde o avião caiu, para ter acesso direto às informações e fazer a cobertura do caso da forma mais completa possível.

Falem com os moradores!
Procurem as famílias!
Acompanhem a rotina dos peritos!

Tá certo! Foi uma tragédia. Acidentes aéreos causam comoção geral e é preciso investigar as causas.

Na semana seguinte, um ataque do al-Shabaab em uma universidade de Nairóbi deixou 148 pessoas mortas – de acordo com números oficiais. 
Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, mandou seu porta-voz dizer: espera que a situação seja resolvida sem maiores danos.
O grupo que assume os ataque garante que matou mais de 200 pessoas – alguns corpos, por algum motivo, não estão sendo contabilizados na contagem oficial. É
 isso?

...
...
...

Não sei. Não vi nenhum jornalista embarcando pro Quênia para ter acesso direto às informações. Nem conversando com as famílias. Nem com os moradores da cidade. Nem com ninguém.

É tudo uma questão de valor-notícia.

É tudo uma questão de valor-pessoa.


sábado, 4 de abril de 2015

Troca

Tudo nessa vida é troca

Troca de olhares
Troca de ofensas
Troca de saliva
Troca

Energia
Conhecimento
Elétrons
Calor

Troca de telefone
Troca de email
Troca de likes
Curte e segue de volta

Troca

Namorado
Figurinha
Perfume
Calcinha

Troca mensagem
Troca dinheiro
Troca amor
Troca segredos
Só aqueles que podem ser descobertos

Troca de canal
Troca de marcha
Troca de pneu
Troca de faixa
E nem liga a seta

Troca
E nem avisa
E o trocado?
Como fica?

Troca