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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Paquera, Gertrudes!

Gertrudes sempre ouviu as pessoas dizerem que a academia era um dos melhores lugares para paquerar.
Não para ela.
Gertrudes entra na academia, faz o que tem que fazer, e sai da academia. Não que ela não repare nos moços bonitões. Ela repara. Ela repara até em como as pessoas estão emagrecendo. E desenvolve conceitos sobre a orientação sexual dos homens de acordo com a roupa que eles escolhem e da pose que eles fazem enquanto levantam todo o peso possível no supino reto.
Mas paquerar... Gertrudes nem sabe como se paquera. Ainda mais toda suada e preocupada se a barra de chocolate que ela comeu depois do almoço será eliminada com 15 minutos de corrida na esteira.
Entre um pensamento e outro ela dá umas olhadinhas pro moreno alto de barba serrada com calça preta e blusa vermelha que se esforça no sobe e desce da panturrilha. Mas ela faz tudo de forma milimetricamente coordenada para ele NÃO perceber que está sendo observado.
Justamente o “contra-objetivo” da paquera.
Mas Gertrudes é assim. Nunca aprendeu a paquerar, coitada. Aprendeu gramática, biologia, se esforçou para compreender física. Agora, paquerar que é bom, paquerar que é útil pra vida, nunca ninguém ensinou.
Na época em que as pessoas começam o intensivão de paquera - naquela puberdade dos 13 anos - Gertrudes era completamente míope. A 200 metros de distância, não conseguia distinguir um menino de um boneco de palha.
E quando conseguia também não tinha coragem de encarar. E quando experimentava sempre fazia uma cara meio de brava, pra poder enxergar melhor, o que acabava espantando os bonecos de palha.
Se a situação era inversa,  quando alguém se mostrava disposto a paquerar Gertrudes, ela nunca sabia como agir. Sempre achava que o cabelo desgrenhando ou a espinha na testa era o motivo do olhar fixo do rapaz. Quando criava coragem pra corresponder, procurava algum motivo nele pra desistir: o topete de pagodeiro, o sapato branco de médico, os menos de 1,80m.
Quando queria, Gertrudes enxergava muito bem.
E enquanto corria na esteira ficava pensando o quanto seria mais prático se o moreno alto de barba serrada fosse falar com ela. Porque ele não tinha topete, usava tênis e tinha mais de 1,80m.
- Oi! Sou eu o escolhido! Não precisa mais se forçar a sair por aí nos sábados à noite pra tentar fazer uma coisa que você não sabe. Não precisa me paquerar. Nós somos feitos um para o outro.
Mas dar um tiro de cinco minutos a 10km/h na esteira cansa e a falta de ar traz Gertrudes de volta a realidade. Ela sai da esteira e vai pegar um halter pra tentar acabar com o “tchauzinho” do braço.
E vejam só quem está lá, pertinho do banco que Gertrudes quer usar. O moreno alto de barba serrada.
- Você tá usando aqui?
- Oi?
- Você tá usando aqui?
- Não!
E Gertrudes começa sua série de 20. Esse é o máximo da paquera que ela alcança na academia.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Vou fazer o quê? Vou matar?

Há um ditado popular que diz que pra tudo na vida há solução, menos pra morte.
E quando a morte vira a solução?
Essa semana um morador de Formosa-GO, cansado de ser roubado, decidiu armar uma arapuca para pegar o ladrão com a boca na botija. Pegou o gatuno com o pé na ratoeira e um tiro no peito. Impediu o nono assalto a residência dele. E tirou uma vida. Resolveu?
Esse mês arrombaram meu carro duas vezes. Sem estepe, sem celular, sem meu material de inglês. O que eu posso fazer? Nada!
O malandro ainda pode fazer algumas coisas, aprender uma nova língua por exemplo. Mas, a essa altura, meu livro deve estar em algum lixo por aí. Ou foi fumado pela galera da gangue. Ou foi usado para enrolar o pó vendido nas quebrada.
E quem poderia, de fato, fazer alguma coisa parece não estar muito afim não.
Dois dias depois de levarem meu celular eu vi, no centro de Taguatinga, um cara, com a camisa do Flamengo, com cinco aparelhos na mão, vendendo cada um por R$ 50,00. A cerca de 300 metros dali uma viatura da PM e dois agentes do lado de fora. Fazendo o quê? Esperando o plantão acabar, talvez.
- Ô moço! Você não tá vendo aquele cara lá não? Faz alguma coisa! Vai lá perguntar se ele tem nota fiscal desses celulares aí! Vai lá perguntar se ele tem pelo menos o carregador desse celulares! Vai lá me provar que esses celulares não são roubados!
Foi isso que eu tive vontade de gritar na cara deles. Mas, respirei fundo, recolhi tudo na gastrite e engoli a raiva. Porque era bem capaz do moço querer me levar por desacato, já que eu só tinha R$ 5,00 na carteira e eles iam querem pelo menos mais R$ 95,00 pra se fingirem de cegos/surdos/mudos e me liberarem.
A situação é exatamente igual na política. A diferença é a quantidade de zeros à direita. E eles não negociam celulares, negociam contratos, licitações, a abertura da Copa do Mundo...
Não tem pra onde correr não. Se não é de um lado e do outro. Se não é o carro arrombado, é o dinheiro do imposto desviado. Se não é o celular, é o contrato milionário do DNIT.
E aí? Vai fazer o quê? Vai matar?
Dona Edith prefere inducar.
Eu, sinceramente, acho que não tem jeito não. Contrariando o ditado popular, acredito que pra tudo na vida tem solução, menos pra morte, para corrupção, pra hemorróidas e para banda Restart.
Não é drama, porque eu não estou aqui dramando nada. São só as condições em que a gente vive.” – Edith Maria Manuelina Tarabetina Capitulina de Jesus Amor Divino

sábado, 16 de julho de 2011

Assim nasceu o rock 'n roll

Numa época em que o mundo era feito de Backstreet Boys e Spice Girls fui, de repentemente, apresentada à Legião Urbana.
"Eduardo e Mônica" chegou a mim como se fosse a história invertida de uma prima que, apaixonada, se via como o jovem e inocente Eduardo nas mãos de seu já universitário primeiro namorado, o Mônica. No auge dos meus 12 anos, achei toda aquela história um máximo – não a música, mas a primeira paixão da minha prima.
Da música eu gostei também. Parecia uma historinha vespertina daquelas que eu via em Malhação todos os dias antes de encarar a apostila de matemática – minha única inimiga naquele tempo pueril.
Foi o meu primeiro contato com aquele barbudo de Brasília. Foi só então que eu descobri que ele tinha outros versos além de “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã” – que passava todo ano no jornal local para homenagear o moço no aniversário de morte dele.
Mas o melhor ainda estava por vir. Enquanto minha prima me contava as aventuras amorosas, o “Mais do Mesmo” ia rolando. Até que ouvi os primeiros acordes de “Faroeste Caboclo”.
- Essa música tem quase nove minutos! – informou minha prima.
Oi? Uma música como nove minutos? Quantas vezes ele repete o refrão?
E aí eu não ouvia mais nada do lado de fora. Totalmente concentrada naquela letra e visualizando perfeitamente cada cena daquela história. Quase nove minutos de uma viagem ao faroeste de Santo Cristo.
“... e nem protejo general de 10 estrelas que fica atrás da mesa com o cu na mão...”
Ele falou cu? Pode gravar música com palavrão?
“... olha pra cá filho da puta sem vergonha, dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão...”
É... pode gravar música com palavrão.
A música acabou e eu só pensava que tinha que ouvir aquilo de novo. Tinha que aprender a cantar aqueles quase nove minutos com tantos palavrões.
Há 12 anos o Google ainda não bombava. Na verdade, eu nem sabia que internet existia. E sem o vagalume.com, a única forma que eu encontrei de decorar a saga de João foi transcrevendo toda a letra. Ouvia, dava pause, escrevia o verso, e play de novo. Foi assim até o “para ajudar toda essa gente que só faz sofrer”.
Não lembro quanto tempo levei pra terminar, mas sei que minha diversão durante o resto do dia foi ouvir a música um milhão de vezes, acompanhando a letra que eu escrevi no papel que meu avô usava para embrulhar os remédios que ele vendia na farmácia.
O rock nasceu em mim há 12 anos, numa cidade do interior de Goiás, durante a temporada das férias de julho na casa da vovó.
As aulas recomeçaram e eu voltei pra Brasília imaginando como teria sido bom ver uma apresentação da Legião Urbana. E a essa altura o “Mais do Mesmo” não saia mais do disck man.
O show das Chiquititas deu lugar ao show do Capital Inicial “acústico MTV”,  o meu primeiro show de rock – sim, Capital Inicial era rock. Agora é que eles estão nessa pegada meio emo. Mas o “acústico MTV” continua no meu carro.
O rock internacional ficou por conta do meu primo roqueiro. Ele se encarregou de me apresentar Link Park, Pearl Jam, Aerosmith, Radiohad, Jimmy Hendrix... eram tardes e tardes ouvindo rock, pegando CDs emprestados e sendo a platéia do primo roqueiro tocando guitarra. Tardes de julho na casa da vovó.
Nesse ritmo, em três anos eu já era grunge, amava Nirvana e odiava Courtney Love. Os Backstreet Boys derma lugar ao Red Hot Chili Peppers, eu só andava de all star e queria aprender a tocar bateria... mas, essa já é outra história,

* 13 de julho - Dia Mundial do Rock *

domingo, 10 de julho de 2011

Le freak c'est chic!

O auto-controle às vezes  é dispensável.
Gertrudes é uma menina bastante controlada. Ela é sensata, engole as coisas que tem vontade de falar pensando na boa convivência, escuta calada críticas de pessoas mais velhas, por mais que tenha vontade de gritar um sonoro APA, e nunca chora na frente de ninguém. Deixa pra fazer isso sozinha, quando as lágrimas se confundem com a água que cai do chuveiro e ela finge pra si mesma que não está chorando. Não por “aquilo”.
Gertrudes é daquelas que tem medo de perder o controle. Mais que isso, ela tem medo de se mostrar fraca, de se perceber fraca. Porque Gertrudes sempre criticou os fracos. Porque Gertrudes sempre foi vista como forte.
Mas Gertrudes não era forte. A capa que ela sustenta sim, é uma fortaleza. Nunca se abala, passa por tudo como se nada a atingisse.
Caiu? Levanta!
Tropeçou? Finge que nada aconteceu e continua andando, por mais que a unha do dedão do pé esteja sangrando, dividida em duas!
E foi assim por longos anos. Sempre que a “Gertrudes Frágil” - aquela que tem vontade de chorar, de pedir colo, de pedir ajuda - ameaça aparecer e dominar a “Gertrudes Forte”, ela parava, respirava fundo...  e a razão sempre trucidava a emoção, passando por cima com todos os tanques de guerra e obrigando os sentimentos a se refugiarem, a se asilarem num canto bem espremido do coração.
Mas, um dia a “Gertrudes Frágil” ficou de saco cheio de ser ignorada e decidiu ditar as regras do jogo pelo menos uma vez. 
A Forte refletiu que já tinha bebido demais. Mais um copo e o controle, tão valorizado por ela, poderia escapar de seu domínio. Mas a Frágil queria mais um copo, a Frágil queria ser livre naquele dia. A Frágil estava cansada de servir como bom exemplo na família e se arrependia de não ter imposto sua vontade quando a Forte decidiu aceitar aquela rótulo de boa menina que ganhou logo cedo. Não que ela não fosse uma boa menina. Ela até era. Mas não sempre. Ela queria ter a liberdade de ser a menina má quando sentisse vontade.
E, bebeu mais copo.
E outro.
E mais um.
Quando se deu conta, estava no controle. A Forte nunca foi forte pra álcool. Uma dose a mais e ela apagava. A Frágil estava, pela primeira vez em muito tempo, dominando toda aquela máquina. Podia falar o que quisesse, chorar o quanto quisesse, gritar o mais alto que pudesse.
Ela falou muito. Gritou um pouco. Dançou, riu, apontou o dedo e, quando deu vontade de chorar, ela decidiu que estava na hora de ir embora. Porque chorar na frente do outros já é um pouco demais. “O que a Gertrudes Forte vai pensar de mim?”
A Forte era tão forte que mesmo alcoolizada dominava a Frágil sem ela nem perceber.
Cuidado, Getrudes! Todo mundo que se controla demais, mais cedo ou mais tarde vai acabar tendo um surto psicótico como o Charlie em “Me, Myself & Irene”. Um dia, o Hank reprimido fica cansado de apanhar e decide bater um pouco.  Porque revidar pode não resolver, mas ajuda a libertar.