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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Eterna na Malásia

Doze horas de espera em um aeroporto.

Você tem tempo para fazer muita coisa, inclusive nada.

Você tem tempo para pensar que precisa de um banho.

Você tem tempo para desejar uma cama como nunca antes na vida.

Você tem tempo para pensar em como seria lindo um prato de macarronada, com muito alho e molho de camarão.

Você tem tempo para tentar fazer cálculos a fim de descobrir como perder menos dinheiro na hora de trocar as moedas entre os países.

Você também tem tempo para se dar conta que não sabe mesmo fazer isso.

Apenas mais três horas e meia...


Você tem tempo para fuçar a vida de todos os ex's (namorados, paqueras, peguetes, etc) no Facebook e no Instagram.

Você também tem tempo para fuçar a vida daqueles que são promissores "futuros" (namorados, paqueras, peguetes, etc) no Facebook e no Instagram.

Alá, todo mundo postando foto da "Lua de sangue". Espero que não tenham perdido o eclipse enquanto postavam...

Caracas, todo mundo foi a um casamento esse fim de semana! 

Ah, não! Todo mundo estava no Rock in Rio esse fim de semana.

Ou assistindo pelo Multishow.

Beleza: #lua, #rockinrioeufui, #multishow. Ah! E tem uma galera xingando o governo, só pra variar.

Ok! Deu de redes sociais!

...

Ainda tenho duas horas...

Tem tempo para reparar como na Ásia a diferente é você.

E em como todo mundo te olha com aquela cara de "por que você não penteia o cabelo e cobre ele com um véu?"

Gente, dormir no aeroporto não favorece ninguém, me dá um desconto!

E eu sou da parte legal do Ocidente! Nós, latino-americanos, nunca exploramos nenhuma civilização oriental! Pelo contrário, a gente também foi explorado!

Dá tempo de revisar mentalmente alguns fatos históricos.

E tem tempo de sobra para pensar que vai ter uma síncope nervosa "na próxima vez que essa mulher anunciar mudanças no portão de embarque nessa língua que eu não entendo"

É meu voo?

Que língua é essa?

Ah! Agora é inglês!

Mas, que sotaque é esse??

Faz silêncio, gente! Eu tenho que me concentrar pra entender!

Aí, porra! Voltou pra língua esquisita de novo!

Não entendi! Vou ter que ir lá no telão checar MAIS UMA VEZ!

235 vezes nas últimas sete horas!

É sério! A mulher na cala a boca!

...

Em sete horas no aeroporto da Malásia foram três cafés. Talvez, por isso eu esteja meio ansiosa. E com essa dorzinha de leve na boca do estômago.

Na verdade, a dorzinha eu acho que é porque posso ter engolido uma barata no último café.

Eu ia pedir um muffin, mas tinha uma barata andando na vitrine do muffin.

Aí, eu pensei que o café era mais seguro, porque rola a água quente e tals, mata os germes...

Beleza! Café!

Fui pegar um saquinho de açúcar e uma colherzinha para mexer. Mas, o que tinha lá?

Isso, barata!

Calmaê que a mulher tá mudando portões de novo!

...

Só peguei o "thank you" do final! E um Singapore no meio... Deve ser o meu voo não.

...

Enfim, voltemos à barata. Tinha uma barata lá no meio das pazinhas.

Daí, eu já imaginei uma família de baratas na máquina do café e uma delas no meu copo.

E foi assim que eu engoli uma barata. Porque, gente, eu precisava do café! E tava ruim não.

Jesus Cristo! A voz do além de novo! E sempre tem um sinal sonoro antes, tipo uma campainha, que me assusta!

Sério! Tá perturbador!

Ah! Agora é o meu voo!! 

"Boarding now".

Aleluia!

.
.
.

Opa! Tem uns monges no meu voo! Vai dar tudo certo, então!

Vamo nessa!

Namastê


PS: O aeroporto de Kuala Lumpur, na Malásia, é limpinho, gente. Tem WiFi de graça e vários pontos com tomadas para carregar o celular. E tem lanchonetes confiáveis também. É que no final eu já estava bem zoada do fuso, sem dinheiro e com fome - fica fácil fazer escolhas equivocadas.


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Finish him...



O dia em que o livro acabou
Sabe quando o livro que te acompanhou por semanas acaba e voce fica meio órfão? 

Então...

Exatamente sete dia antes da minha partida, o livro acabou. E, estou sentindo falta dele.

O caderno que testemunhou minhas confissões, confusões e divagacões também está no final. As últimas folhas em branco reservadas para os últimos dias.

Até o pacote de papel higiênico que eu comprei na promoção vai acabar essa semana.

Coincidência? Estratégia inconsciente?

Não sei, mas está tudo terminando por aqui.

Parece que tem cinco anos que eu sai de casa. Mas, passaram como cinco semanas. E tem apenas cinco meses. Foi tudo bonito, intenso e verdadeiro - disse Gusttavo Lima.

Foi. Na última potência.

Se era frio, era muito frio
Se era vento, era ventania
Se era chocolate, era TimTam
Se era limão, era muito caro

Se era saudade, era doída
Se era amor, era saudade
(Se tem saudade, era amor?)
Se era sozinha, era autêntico

Aí, chegaram as pessoas
Completamente especiais
Conectadas pela mesma vontade de resignificar, reiventar, redescobrir
Conectadas pelas mesmas crises de "o que eu tô fazendo aqui?"
Conectadas, agora, pelos planos de novas conexões

O "voltar" é meio assustador
A gente sabe o destino, mas sabe que nao é o mesmo lugar
Eu vou caber? 
Voltar pra onde? Voltar pra quê?

Porque o livro acabou
Porque você preencheu o caderno todo
E não tem mais papel higiênico

Tem que começar de novo
Escolher um outro título
Comprar um novo caderno - em branco
E o papel higiênico...
Bom, tem coisas que a gente não recicla

Ainda bem que o sonho não é uma delas

...

HADOUKEN!!!

<< YOU WIN >>





sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Episódio 5: Nada (nada mesmo!) será como antes

Na infância eu tinha medo.
Sempre fazia o caminho mais longo para evitar passar por um.
Até que veio a fase do "quero um!".
Mas, discurso de mãe que cria filhos em apartamento é sempre o mesmo.
"Nem pensar! Não tem espaço nem pra gente direito".
E não tinha mesmo. Você nunca caberia em um apartamento.

Mas, chegou o dia da mudança.
Era uma casa. Grande. Muito espaço.
"Mãe, não tem mais desculpa".
- Eu não vou dar banho, não vou dar comida, não vou cuidar de nada. Se virem!

Mãe sempre tem discurso pronto.

Mas, ninguém resistiria a você! Uma bolinha de pelos! E, eu lembro, a mais quietinha da ninhada. Desde cedo dava sinais de que seria uma lady.

E foi.

No começo, um ursinho chorão. Mas, eu te entendo. Fazia frio e você estava longe dos seus 11 ou 12 irmãos.

Depois, um ursinho cagão.
Mas, a culpa foi nossa. Não deveríamos ter colocado leite na sua ração.

Pra cumprir a promessa, o despertador tocava 15 minutos mais cedo - era preciso trocar os jornais do seu canil antes de ir pra escola.

O canil. 
Rapidinho você aprendeu a fugir dele. Uma bolinha de pelos que escapava pelas grades e corria pra rolar na terra.
Porque quando você chegou ainda era terra. 
Depois veio a brita e só mais tarde a cerâmica. 

Você acompanhou todas as fases - e se divertiu em todas elas.

Quando você chegou eu era uma adolescente retardada. 
Ninguém me amava, só você - eu pensava.
E eu queria tanto que o João Guilherme me amasse... Lembra dele? 
Eu falava dele pra você.

Eu também te falei que não aguentava mais estudar para o vestibular.
E aí, a gente corria atrás dos sacos de supermercado para relaxar.
Você nunca cansava. Você sempre queria mais.

Você também correu comigo pela casa quando saiu a lista de aprovados.
"Tô chorando, mas dessa vez é de felicidade, Leka! Não precisa se preocupar!"
Pronto! Fomos celebrar!

Você acompanhou todas as fases - e me divertiu em todas elas.

Você também foi testemunha de vários segredos.
Nunca contou pra ninguém, mas deixava claro sua desaprovação e logo se retirava.
Você odiava fumaça de cigarro.

Mas, gostava de mamão. E de frango! 
Fazia questão de anunciar que queria um pedaço do "nosso almoço" assim que farejava uma ave no forno.
E sempre ganhava.
E sempre queria mais.
E sempre ganhava.

Você merecia.

A adolescência acabou. As responsabilidades aumentaram.
Eu quase não parava em casa. Mas, sempre que chegava você e seu cotoco, agitado de um lado pro outro, me davam aquela sensação de "home, sweet home".

(E agora?)

A gente não tinha mais tanto tempo pra brincar. Mas, você nunca guardou mágoas disso.
E se eu começasse uma dieta nova, você sempre topava correr comigo pelo condomínio. 
E você corria!
Feliz!

Até que começou a ficar cansada.

Correr atrás de sacos de supermercado continuava legal, mas você às vezes caminhava - e já não pulava tanto.
Mas, estava lá!

Você sempre estava lá. Era só chamar.
E quando eu chegava em casa de madrugada - voltando da balada ou de um plantão cansativo - você sempre estava lá.

Ultimamente você não levantava mais para me receber.
Mas, sempre espichava o pescoço e balançava o cotoco.

(E agora?)

Eu pedi pra você me esperar! Eu falei que voltaria rapidão!

E agora?

Desculpa querer que você ficasse, mesmo com dor. É que eu sou egoísta mesmo. Queria ver seu cotoco balançando mais uma vez.

Desculpa por todas as vezes que você trouxe a bolinha e eu não tive paciência de jogar.
Por todas as vezes que eu te ameacei com a varinha para você parar de fugir.
Por todas as vezes que eu gritei quando você espirrou na minha perna.

E obrigada por me amar quando ninguém mais amava - mesmo depois de eu me recusar a jogar a bolinha, te ameaçar com a varinha e gritar pra você não espirrar na minha perna.

Obrigada por correr comigo.
Obrigada por me abraçar depois que eu chegava da corrida - e você não podia mais me acompanhar.
Obrigada por nos proteger e avisar quando alguma coisa estava fora de ordem.
Obrigada por ter acompanhado tudo.
Obrigada por sempre estar lá.

E como o "sempre" sempre acaba
Dessa vez, você não estará.

;(



11 anos de amor