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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Besides summer

Sou uma pessoa completamente solar.
Sou movida a calor.
Quanto mais quente, melhor.

No inverno eu só tenho vontade de comer. E de dormir. Uma combinação que, para o meu metabolismo, é catastrófica.

Não que na estações quentes eu não sinta vontade de comer. "Vontade de comer" anda comigo sempre, somos inseparáveis. 

Mas, com sol, a gente sente vontade de suco refrescante (saudável), açaí (saudável), água de coco (saudável), salada de frutas (saudável - tá, não muito porque rola um leite condensado).

No frio, eu quero chocolate quente, chocolate frio, chocolate no fondue, chocolate no capuccino, chocolate na sopa, chocolate.

Foi por isso que eu escolhi a Austrália! Um país quente, cheio de surfistas, sol a pino, pessoas descalças nas ruas...

Até agora, eu só vi pessoas descalças nas ruas. 

Sim, elas vão descalças ao supermercado porque, convenhamos, deve ser muito mais confortável

Cheguei em Sydney no finalzinho do Outono e, agora, o Inverno já mostrou a que veio. A mínima chegou a 10°C. Isso, para uma goiana, tem sensação térmica negativa. Ou seja, tá frio.

Não foi extamente esse o planejado. Minha mala tinha muito mais shorts do que casaco e meia. Tinha canga, não gorro. E, porra, como eu sinto frio na orelha!

Mas, além dos gastos não previstos com moletons, mantas e guarda-chuva, tem outras supresas que podem fazer uma pessoa solar curtir o inverno. E, melhor, fugir do que é óbvio. 

Nem só de verão vive a Austrália

No inverno também tem praia. Elas continuam lindas e a vista é estonteante, mesmo sem o calor de 40°C


Bondi Beach - dizem que a água fica morna no inverno. Eu nao pago pra ver

E se não dá para colocar o biquini e curtir o marzão do Pacífico, dá para sentar na areia, de jeans e tenis, e contemplar o Sol - que entra na água majestoso como sempre, sem saber se é verão ou não


Rose Bay 
Além disso, o inverno muda o tipo de relação que estabelecemos com a cidade. 

Se no verão você quer o ar-condicionado só pra você, não aguenta dormir de conchinha porque morre de calor e dispensa abraços apertados e calorosos porque está toda suada...

No inverno você quer mais é ficar perto, dormir abraçadinho e adora um contato físico, para trocar calor humano.

Eu e Sydeny estamos quase íntimas porque o frio nos aproximou

Se no verão você veste um short, calça uma rasteirinha e faz um rabo de cavalo para sair a noite, porque "tá calor e eu só quero ir ali tomar um chopp gelado"...

No inverno você procura o lenço fino de estampa vintage para enrolar no pescoço, tira a bota de couro do armário e passa aquele batom berinjela tendência, porque "tá frio e eu quero ser fina"

Sydney faz a mesma coisa! No inverno, ela se enfeita todo para sair a noite



Vivid Festival 
O Vivid Festival foi uma grata surpresa. Nunca tinha ouvido falar. E, se viesse no verão, talvez continuaria sem saber. 

São quase 20 dias de um festival que deixa a cidade especialmente iluminada. Os principais monumentos de Sydney recebem projeções que alteram as cores e, ilusoriamente, a textura e até a dimensão das construções.

Além das luzes, tem festas especiais e eventos que privilegiam a cena contemporânea da cidade em diversos setores - arte, arquitetura, tecnologia, e por aí vai.

No verão tem praia, tem mar, tem areia, praia, mar e areia.

No inverno tem o quê? Tem filme!!!!!!



Friozinho pede filme - Sydney sabe disso!



State Theatre
É no inverno que acontece o SFF (Sydney Film Festival) e você tem duas semanas inteiras com cerca de 300 filmes passando nos quatro cantos da cidade. 

Além de privilegiar a cena cultural e dar aquela força para a Sétima Arte, o inverno te dá a chance de assistir a um filme em um palácio gótico construído na década de 1920!

São dois em um: você assiste ao filme depois fica dando umas voltas, tirando umas fotos, reparando nas porcelanas e nos lustres, que podem matar uma pessoa se despencarem do teto.

Além de pipoca e refrigerante, eles vendem cerveja, espumante e cálices de vinho para esquentar a sessão - e as gordices de sempre, como sorvete e jujuba. 

Estudante que sou, passei no supermercado antes e comprei duas barras de chocolate (Lojas Americanas fellingspor AUD$ 2.00 - acredite, era promoção

Eu queria mesmo o vinho, mas a gente tem que ter prioridade na vida e eu preciso pagar o aluguel.

São essas supresinhas da 'Sydney fria' que estão me fazendo olhar com mais simpatia para o inverno. O vento e as baixas temperaturas fazem a gente festejar todo raio de sol e sempre ter um tempinho para admirar o azul do céu.

E aí, partindo para as reflexões bregas que tomam conta da minha cabeça (principalmente tendo a mim mesma como única companhia na maior parte do tempo), concluo que, sim: a vida é o que a gente quer que ela seja! 

Sempre fui do verão e estou achando encantandor baixar a guarda para o inverno. 

Aliás, está sendo encantador - e assustador também - baixar a guarda. 

Sabe "convicções"? Tenho váááárias; elas que sempre direcionam as minhas decisões.


Tinha


De repente, todas elas desmoronaram. Não tenho mais certeza de nada. 

De na-da.

E agora?

E agora que é ótimo não precisar explicar para as minhas convicções porque eu escolhi inverno e não verão. Eu simplesmente quis. E, amanhã, posso querer verão de novo. 

A vida é assim, inconstante. E é bom que seja! É só assim que a gente faz dela o que quiser. Nada é definitivo. Nada é determinante. Nada é para sempre. E não são apenas duas opcões - há uma infinidade delas entre um oceano e outro.

Um mundo todo de possibilidades.

Osho* tinha razão: "a vida é a energia que trazemos a ela".

É bom ficar atento para escolher sempre o lado positivo - ainda que seja inverno e não verão.

E é bom lembrar também do "tudo posso, nem tudo me convém". Porque, né? Eu escolho viver de chocolate, mas sei que posso não caber na poltrona do avião quando voltar pra casa. A escolha é nossa, mas sempre rola uma consequência.

(Acho que sobrou uma convicção)


*Não tive a oportunidade de perguntar a ele, então nao sei se Osho disse mesmo isso. Nem deveria publicar, já que não consegui checar a informação. Mas, como estou numa fase "quase sem convicções", publiquei. No entanto, o blog está à disposição para eventuais solicitações de direito de resposta.





terça-feira, 9 de junho de 2015

4 semanas


Acaba um dia, começa uma semana


Agora a unidade de medida é semanal
O aluguel? Paga por semana
O desconto na passagem do trem? Semanal
O curso de inglês? Quantas semanas?

Viver a semana é mais dinâmico
Todo domingo vence
São sete dias até o início do próximo ciclo
De sete em sete: 30!

Quatro semanas na velocidade da luz
Tudo virado em 180 graus
Adianta o relógio em 13 horas
E começa a contagem regressiva

Semana 1: jet lag
Físico e espiritual
O corpo veio, a cabeça ficou
As malas também
O coração não entende direito
Cadê aquela zona confortável?

Semana 2: budget
Sabe fazer conta? É bom aprender
O dinheiro tá contado
O dólar tá subindo
A cerveja do sábado não cabe mais na semana
Toma água que é de graça

Semana 3: cold
Do clima, da gripe, da solidão
Corre que aquece
O corpo e a alma
A serotonina ameniza a saudade
O WhatsApp também
A alegria é por conta do Tim Tam*

Mas, o vento entope o nariz
Três pacotes de Tim Tam inceideiam a gastrite
E WhatsApp às vezes dá nó na garganta

A mensagem nem sempre é boa
O relógio corre dos dois lados
De lá, alguém não pôde esperar
De cá, não dá tempo de voltar
"Adeus, amor, eu vou partir. Ah! Eu vou embora"
E foi
Perdi um abraço

Sete dias? Setenta e sete.

Semana 4: Birthday's Queen
Feriado de mentirinha
Casa nova. Sentimentos novos
Cozinha de verdade. Almoço de verdade
É tudo novidade. De novo
E já dá saudade da semana 1
Que passou em 30 dias
E coube em quatro semanas
Mas, não cabe aqui
Mas, não cabe em mim

* Tim Tam: não se sabe se é biscoito ou se é chocolate, mas essa nem é uma preocupação. Basta saber que é perigoso porque causa dependência química, seguida de compulsão, na primeira mordida.



sexta-feira, 5 de junho de 2015

Enquanto uns se preocupam em boicotar boticas...

... Outros esgotam as vendas de ingresso para exibição de documentário que retrata a vida de crianças adotadas por casais homossexuais.

É isso!


Fiquei sabendo pelo Facebook sobre a polêmica campanha de Dia dos Namorados de O Boticário. É frustrante perceber que amor ainda é causa de tanto preconceito.


Sim, porque o vídeo não mostra nada além de: casais apaixonados trocando presentes.


O problema é o quê? Homem com homem e mulher com mulher?


Um dia, o problema já foi negro com branco e rico com pobre.


E nem faz muito tempo.


E nem "foi". A gente sabe que ainda " é". Mas, agora PELO MENOS é feio (e, dependendo do caso, dá cadeia, só pra lembrar) admitir publicamente esse tipo de preconceito.


Então, o mundo não está tãããão perdido assim. As mudanças vão ocorrendo. Lentamente? Bem lentamente, mas o movimento não para.


Quer ver como a tendência é melhorar?


Para a minha alegria, esta semana começou o Sydney Film Festival 2015!


Tudo bem que eu vou ter de escolher entre almoçar e assitir a algum filme, mas faz parte dessa minha nova vida de estudante.


Na verdade, eu já escolhi. Ninguém precisa almoçar todo dia, isso é invenção do mundo moderno.




São 12 dias intensos de exibição de 218 títulos, entre filmes inéditos, reeditados, documentários, animações, curtas e tudo aquilo que cinéfilo adora.

Tem longas de 68 nacionalidades diferentes (sim, tem do Brasil!), além de palestras gratuitas (!) com alguns diretores e roteiristas.


Passado o frenezi inicial, eu fui olhar com calma a programação, já que almoçar é sim para os fracos, mas eu sou meio fraca. Precisava garimpar dois filmes no meio de uma lista linda dessa.


Foi então que dei de cara com Gayby Baby. Trata-se de um documentário australiano sobre a vida de quatro crianças que estão sendo criadas por casais do mesmo sexo. É uma investigação para saber quem elas são, como vivem e o que acham de ter dois pais ou duas mães.


[Encaixe aqui a piadinha do Globo Repórter]


E aí, rolou boicote?


Os ingressos para o primeiro dia de exibição do documentário esgotaram antes do festival começar.



E tem mais: Gayby Baby foi produzido por uma fundação sem fins lucrativos, criada com a finalidade de arrecadar recursos, por meio de doações, para patrocinar documentários pautados por causas sociais - é a DAF (Documentary Australia Foundation).

Ou seja, não boicataram, incentivaram a produção doando dinheiro e selecionaram para disputar, com outros nove títulos produzidos da mesma forma, o prêmio de melhor documentário do ano.


Pessoal, há uma esperança!


Enquanto a gente discute se pode mostrar beijo, curtir vídeo ou comprar perfume da marca que aceita a realidade como ela é, tem uma galera que já admite isso como um fato e está correndo atrás é de estudar as transformações culturais e sociais geradas por esse fato.


Muito mais justo e humano do que fingir que homossexuais não existem e não constroem famílias.


E não trocam presentes no Dia do Namorados.


Pode ser lento, podemos estar meio atrasados, mas olha aí: dá pra chegar!


O mundo anda é para frente!  E o progresso é visível. Pode até ter uma galera querendo segurar o avanço, mas tem mais gente empurrando!


Há 30 anos um casamento interracial não era bem visto. Nenhuma das famílias achava "certo". Mas, e aí? Eu nasci!


Meus pais são casados até hoje e lá em casa ninguém é E.T.


Não adianta boicotar. O amor não funciona com a lógica capitalista, fundamelista, egoísta. E é o amor que impulsiona o progresso.


E eu vou para aqui antes que fique onírico demais.


PS: Favor não me boicotar.










segunda-feira, 1 de junho de 2015

Lado B

A paisagem bonita com filtro que realça as cores do céu.

A selfie marota na balada de sexta-feira.

A viagem de férias.

A sobremesa gourmet com calda de chocolate escorrendo pelas bordas.

Tudo isso é lado A.

É o popular. O legal. O que as pessoas querem ver.

O hit que bombava nas rádios sempre estava no lado A do vinil - ou das fitas K7 (minha prima de 17 anos não sabe o que é uma fita K7. Estou oficialmente velha ultrapassada).

O lado A é o lado dos hits. O que todo mundo ouve. O que agrada a maioria das pessoas. O "sucessão".

No lado B, a banda gravava as músicas que, geralmente, não eram unanimidade. Aquelas que não são pop, apesar de dizerem muito sobre a personalidade dos músicos. 

Às vezes são tristes. Às vezes são melancólicas. Às vezes são contestadoras. Às vezes são tristes, melancólicas e contestadoras. E, mesmo assim, bonitas!

" Help" é lado A.

"All together now" é lado B.

"Pais e filhos" é lado A.

"Eu era um lobisomem juvenil" é lado B.

Lado B é aquele seu momento "meio puto meio reflexivo" antes de prestar atenção no céu de cores bonitas que podem render uma boa foto no Instagram.

É aquela "bad vibe ressaqueada" que você sente no sábado meio-dia, depois que acorda da balada de sexta, mas que ninguém no Instagram vai ficar sabendo porque não renderia muitas curtidas.

É a crise de culpa que você tem depois de subir na balança e perceber a merda que deu comer aquela sobremesa maravilhosa com chocolate transbordando durante o último mês.

Mas, né? Vai tirar foto da celulite e jogar nas redes sociais?

Nunca! Lado B. Ou melhor, lado C!

Lado B é aquele choro sentido de saudade, escondido pela linda paisagem.

É aquele desespero de saber que seu pai perdeu o irmão caçula e você não consegue correr para abraçá-lo porque está há umas 22 horas "voando" de distância.

É lidar com pessoas que acham que, no mundo, terá sempre alguém para servi-las. E que tudo bem entupir a pia, ou explodir o microondas, ou deixar essa meleca no chão -  alguém vai dar um jeito nisso na segunda-feira.

Por que jogar comida dentro da pia, gente?????

Mas, você vai postar o hostel nojento? A fronha manchada do rímel que escorreu na sua crise de choro? 

Claro que não! Melhor postar o Opera House iluminado pro Vivid Festival!



Quase um carro alegórico da Mangueira


Mesmo com pouquíssimas pessoas ouvindo, o lado B sempre esteve lá! Nos shows, tocava uma ou duas músicas, e só quem era fã cantava junto.

Quem era fã, muita vezes até preferia o lado B.

Ele é mais genuíno. Mais revelador. Mais subjetivo. Por mais que não seja tão agradável.

O lado B vai estar sempre ali e diz tanto sobre a gente quanto o lado A. Por mais que não seja bonito, é nosso. Faz parte. Compõe.

A saudade é minha! A dor é minha! A celulite é minha! A vontade de sair correndo ao se deparar com uma montanha de lixo na cozinha é minha! E diz muito sobre quem eu sou.

Lidar com o lado B também diz muito sobre quem eu penso em ser.

...

No último show de Brasília, Paul McCartney abriu com "All together now". E não tocou "Help".

Com o tempo, a gente assume o lado B porque aprende a gostar dele. Porque percebe que ele é o que realmente é. O lado A é o que parece ser.

É o lado B que faz o A ter sentido.

"Eu era um lobisomem juvenil" é minha música preferida da Legião Urbana.

Lado B.

"Parecer" cansa. É mais fácil "ser". 

Viva o lado B!