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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Boiemos!

 

Esses dias rolaram vários reencontros internos por aqui. Foi um passeio por todos os caminhos que eu já percorri até agora. Bom, todos não, os mais recentes.

Reencontrei o meu lado viajante, voltei a todos os lugares, senti de novo todos os cheiros e sabores. Aquele frescor de novidade, que renova a vontade de seguir.

Revisitei também minha vida antes da maternidade – lembrei das baladas, dos sambas, das madrugadas descomprometidas, dos romances, dos fins de romances...

Fui também rever o momento em quem atravessei o portal da maternidade. Desde descobrir a gravidez, toda a gestação, o parto, os meses iniciais... tanta intensidade! Tantas coisas! Muitas só começam a fazer sentido agora.

Tantos diálogos confusos, tantos sentimentos sem nome, tantas incertezas... olhando agora, com esse pequeno distanciamento de  20 meses, parece uma realidade paralela. É como se só agora eu estivesse voltando pro corpo. Antes, eu só me observava. Sem entender nada.

Agora eu entendo. É só olhar nos olhos de MM e entendo tudinho. Todas essas viagens internas, inclusive, ocorrem no momento em que estamos na rotina do sono e eu percebo aquele pequeno mini rapaz adormecendo.

Filho é a materialização do tempo. Você percebe que se piscar, perde momentos. Que ao brigar com a realidade você deixa de vivê-la – e que isso é um desperdício. É preciso sentir cada momento. São eles que nos compõem. Todos eles. Os bons, os ruins, os insonsos, os turbulentos, os pandêmicos...

Lembrei de uma mensagem que eu recebi, num momento de muita angústia e dúvida: A vida é como um rio, é melhor tentar boiar que ficar se debatendo na água. Boia e aproveita o percurso, você vai ver como as águas ficam muito mais tranquilas.

Conselho ancestral, hein?! De África!
Hotep!

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A parte boa


Acho a nossa estratégia de sobrevivência muito poética. Para superar a dor, as mágoas, os rancores, a gente se apega sempre à parte boa e bonita da história.

É isso que garante, por exemplo, a perpetuação da espécie. A mãe esquece as dores na coluna e a azia da gestação, os incontáveis meses em privação de sono, as toneladas de fraldas (e os cifrões que isso envolve)... esquece tudo e engravida de novo!

Passa por tudo outra vez porque se apega à parte boa e bonita da história. Às mãozinhas sedentas por descobrir o mundo, aos olhinhos curioso, ao cheirinho de neném, às risadinhas por qualquer gracinha sem graça que a gente faz... Isso tudo também passa, mas disso a gente senta falta. E quer viver de novo.

Não. Eu ainda não estou nessa fase. Mas, semana passada, me peguei chorando, com saudade de amamentar. Sim! A gente não lembra do mamilo rachado, nem do leite empedrado. A gente lembra daquele carinho, do neném adormecendo nos seus braços na mais completa sensação de paz. E dá saudade.

É poético, né?! É a nossa forma de sobreviver.

E isso vale pra tudo.

Eu sei que virei noites concluindo trabalhos da faculdade, que não tinha dinheiro nenhum naquela época, que tinha um medo danado de não me encontrar na profissão. Mas, é muito mais latente na memória as tardes que eu passei jogada no Minhocão da UnB filosofando sobre a vida, as amizades que fiz com mulheres que são meu arrimo até hoje, as festas estranhas com gente esquisita, os churrascos sem carne dos cursos de engenharia... é essa a parte boa que fica!