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quinta-feira, 16 de julho de 2015

27

Existe uma espécie de mito por trás do número 27. Hendrix, Joplin, Morrison, Cobain, e, mais recentemente, Winehouse, ajudaram a reforçar a lenda. O clube dos 27.

Se nada acontecer nos próximos 40 dias, escaparei de fazer parte da estatística .

Por mais que eu não faça nenhuma questão de entrar pro clube cabalístico, devo dizer que uma parte morre mesmo aos 27.

Pra todo mundo? Não sei. Pra mim, sim.

Morreu uma parte cética, convicta, cheia de certezas e que se achava velha.

Morreu uma parte dura, que não chorava em público, que não falava sobre os próprios sentimentos.

Morreu uma parte racional, controladora, sistemática, cheia de melindres.

Morreu uma parte ansiosa... mentira! Essa parte ainda está viva, mas bem debilitada. Não sei se chega aos 28.


Espero que não.

Mas, se morre uma parte, nasce outra. Ou, sai do lugar onde se escondia, oprimida pela autoritária parte velha que não suportou os desafios dos 27.

A parte nova é bem nova! E não se assusta mais com os ~late-twenties~. A parte nova se acha jovem e vê um mundo de possibilidades pela frente.


:: um laço no espaço para pegar um pedaço do universo que podemos ver::

A parte nova questiona todas as certezas antigas, chora no meio da praça quando recebe uma mensagem fofa no Whastapp ou ouve uma música cheia de lembranças, e entendeu que tão importante quanto sentir é falar que sente.

A parte nova desisitiu de controlar a vida - porque ela é governada por forças muito mais inteligentes - e entendeu que sempre rola um cinza entre o branco e o preto.

A parte nova acredita que é pra frente que se anda e que a tendência é sempre melhorar!

A parte nova é uma otimista - o que deixaria a parte velha completamente transtornada. Aliás, desconfio que foi por isso que a parte velha se foi - não aguentou ver tanta alegria por nada.

Por nada?

Por nada!, diria a parte velha.

A parte velha era míope. Não enxergava direito de longe. E de perto, só via defeitos.

A parte nova também é míope. Mas, agora coloca os óculos para ver loooonge - e acha um encanto para cada defeito.

Sempre tem! Procura que tem!

A parte nova ainda fica tensa com mudanças, mas aprendeu a se divertir com elas e tem certeza que tudo vai se ajeitar, da mellhor forma possível. As lágrimas durante o processo são necessárias e úteis. Levaram a parte velha embora, por exemplo.

A parte nova adora a própria companhia. Sozinha, aprendeu a se acompanhar. A se respeitar. E desisitiu de agradar todo mundo.

Se a parte velha não conseguiu, quem sou eu?

A parte velha, coitada, passou boa parte do tempo tentando. Conseguiu apenas uma gastrite - que lembra a parte nova que "remediado está" se não há o que fazer.

"O acaso é o grão-senhor", diria Caetano.

A parte nova concorda.

Mesmo sabendo que não existe ::acaso::

A parte nova é assim, meio subjetiva...

Acho que eu gosto mais dela.





sexta-feira, 3 de julho de 2015

Chocolate ou limão?

Se a vida te der um limão...

... E você estiver na Austrália, guarde muito bem porque ele custa uma fortuna!

Um chá de gengibre com mel e limão é tudo que uma pessoa gripada precisa. Mas, não é simples como ir ali no meu quintal, pegar um limaozinho e fazer um chá.

Não.

Com o dinheiro gasto para comprar um único limão, eu poderia comprar DOIS KitKats na promoção.

Quer dizer... Limão ou chocolate?

Em condições normais de temperatura e pressão, é claro que eu levaria o chocolate. Mas, gripada eu não sinto o gosto de nada, então...

Levei o chocolate assim mesmo.

E depois tive que voltar para comprar o limão, porque a gripe nem me deixou dormir.

Foi uma noite limão.

Nos momentos "limão", nada faz sentido. Você se pergunta o que está fazendo tão longe de casa.

Com o nariz entupido e a cabeça pesada você quer a sua cama, o seu pijama, a sua mãe.

Bem diferente daquele momento "chocolate", andando por um dos parques da cidade, com o mar de um lado, o gramado verde do outro, e o céu azul brigando com o Sol pra saber quem é mais bonito.

Nesses momentos, você pensa que pode morar num lugar desses pra sempre.

Longe de casa a vida é uma oscilação constante entre limão e chocolate.

É chocolate conhecer novos lugares, novas pessoas, se perder nas ruas da cidade e descobrir atalhos desconhecidos pelo GoogleMaps.

Mas, é limão não estar presente na comemoração de aniversário de velhos amigos, perder as festinhas de família, e encarar o vento gelado na cara, andando pelas ruas desconhecidas, sem conseguir respirar e raciocinar ao mesmo tempo - porque a gripe não deixa.

É chocolate perceber que a comida que você faz está ficando cada dia melhor - agora ela é comível!

Mas, é limão lembrar da farofa de banana da Cleo, da canjica da minha mãe e da pamonha da vovó.

Onde eu vou achar uma pamomha em Sydney? Sem chance!

Ficar (tão) longe de casa é uma experiência doce e azeda. Mas, não é como chocolate com limão. 

É chocolate. Depois limão. Não necessariamente nessa ordem.

Você não sente os sabores misturados. Tem a hora do doce e tem a hora do azedo. E você passa de um para outro em questão de minutos. É um estado de bipolaridade.

É chocolate se sentir confiante, sabendo que é capaz de resolver os perrengues que aparecem, por mais que haja choro e ranger de dentes durante o processo.

É chocolate a sensação de que você é apenas um pontinho nesse mundão de meu Deus, e de que ninguém está nem aí se você improvisa uma burka pra se proteger do frio, vai fazer compras de moletom ou molha o biscoito no leite.


O frio faz você perder qualquer tipo de vaidade


Mas, também é limão essa sensação de que você é apenas um pontinho nesse mundão de meu Deus. Por isso, cresce a vontade de se cercar de gente do bem, que queria o seu bem. Cercar-se de gente chocolate!

Mas, claro, não é uma dicotomia. Há nuances entre o chocolate e o limão. E é possível passar por todas elas - ida e volta - ao longo do dia.

E nem é coisa de brasileiro. É coisa de ser humano longe de casa. 

E como em Sydney tem mais "ser humano longe de casa" do que canguru, é fácil se aproximar das pessoas. Porque a gente nem sabe explicar direito o que é - muito menos em inglês - mas, todo mundo se entende.

E se acolhe. E tenta se ajudar achocolatando a vida.


PS: Falando em achocolatado, alguém avisa a Pepsico que não tem Toddy em Sydney. Tem Nescau (que é super caro, mas não ganha do limão), mas não tem Toddy. Nem nada parecido com Toddy - já testei vários. Yes, I'm a Toddy person!