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segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Muito além do fraldário

Sair de casa com um bebê é um evento. Quem tem, sabe.

A gente começa a se organizar hora antes. Mentalmente, dias antes.

Primeiro arruma a sacola da criança. Depois a criança. Depois arranja alguém pra cuidar da criança enquanto você se arruma. Se não tem, manobra criança, chocalho, rímel e creme para pentear em apenas duas mãos.

Quando acaba, você já precisa de outro banho. E o bebê, de outra fralda.

Mas, você quer muito ir! Pega a criança, a sacola da criança, a sua bolsa, o seu vestido amarrotado e vai!

Depois dessa maratona, tudo o que a gente quer é comer pizza e rir com as amigas. 

Mas, está na hora da papinha.

E depois o neném quer colo.

E depois o neném quer dormir.

Entre papinhas, choros, e peito pra fora, uma fatia de pizza pra mãe faminta. 

"Não, querido garçom, não precisa recolher o meu prato. Eu ainda estou comendo. Aham. Estou sim. Obrigada!"

Somos sempre as últimas.

Opa! Sobrou uma fatia ali! Tá fria, mas com isso a gente já até se acostumou!

Uma mordida. Uma reclamação, que vira chorinho. 

É sono mesmo.

Vai dar uma volta pra ninar a criança. 

20 minutos
.
.
.
Dormiu!

"Licença, licença, licença, senhora" - grita o garçom enquanto você coloca a criança adormecida no carrinho.

O "licença, licença, licença" foi no mesmo tom de um "sai da frente você e esse seu carrinho que eu preciso passar e atender clientes que não atrapalham a circulação da minha pizzaria".

A fome vira constrangimento que vira raiva.

"Ok! Vamos comer assim mesmo, que eu vim aqui pra isso!"

Não tem mais prato. Não tem mais pizza. Recolheram a mesa. Levaram a fatia mordida e fria que a gente tanto esperou pra comer.

E agora o garçom esbarra no carrinho de cinco em cinco minutos, mesmo com a criança dormindo lá dentro.

E manobram bandejas em cima dele. Mesmo com a criança dormindo lá dentro.

Há lugares que não foram feitos para mães e seus bebês.

Boa parte da sociedade ainda acha que a gente tem que ficar em casa. Ou, no máximo, dar uma volta no shopping.

Restaurantes? Casas de show? Pra quê? Fiquem em casa cuidando dos seus bebês!

Você não acha nem fraldário no banheiro. 

Agora tem lei pra colocar até nos masculinos.

Acho ótimo! 

Mas, importante mesmo é o acolhimento do lado de fora do WC.

Então, nobre empresariado, sinta-se honrado se a gente faz todo esse esforço pra sair de casa e ir gastar dinheiro no seu estabelcimento com nossos bebês. O mínimo que você pode oferecer é gentileza no atendimento.

E um fraldário decente.