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domingo, 4 de abril de 2021

"Uma noite em Miami"

Malcom X, Muhammad Ali, Sam Cook e Jim Brown juntos, em um quarto de hotel, no ano de 1964 – auge da luta pelos direitos civis nos EUA.

Essa é a premissa de “Uma noite em Miami”, que marca a estreia da atriz Regina King na direção. O roteiro é adaptado da peça de mesmo nome, já bastante premiada. A linguagem para o cinema é mais dinâmica, mas a gente sente a pegada teatral: boa parte do enredo em um único cenário, poucos personagens, pouquíssima distração. Os diálogos são o centro das atenções.

E olha... diálogos muito profundos. Especialmente para a população preta.

Quatro lendas afro-americanas, reunidas em um quarto de hotel barato, discutindo estratégias de luta contra o rac1sm0, no que era pra ser a comemoração por Muhammad Ali (que, aliás, ainda era Cassius Clay) ter se consagrado campeão dos pesos-pesados. O encontro ocorre logo após a luta vitoriosa, e no dia em que Ali decide anunciar sua conversão ao islamismo.

Apesar de fictício, o filme é baseado em fatos reais. Ali tinha Malcom X como mentor espiritual e amigo. A decisão de se tornar mulçumano foi de fato pensada em conjunto. Sam Cook, famoso cantor de soul, rico, e criticado por não usar sua arte para fortalecer a luta do movimento negro. E Jim Brown, atleta, recordista da NFL na temporada, mas às voltas com a transição de carreira – decide se tornar ator.

No filme, somos apresentados a história e à personalidade dos quatro bem no início, antes do encontro. Logo de cara percebemos como cada um deles lida com o rac1sm0 – e como ele está sempre presente, independentemente de quão bem-sucedido você seja.

A grande reflexão do filme, levantada por Malcom X, é a questão do posicionamento racial. É possível dissociar a luta da fama, em nome do bom trânsito e da boa convivência? Tornar-se famoso é uma forma de libertação? O que emancipa? Dinheiro? Poder?

É sobre isso. Tratado em conversas doloridas, muitas vezes nervosas e ânimos exaltados – afinal, a chaga é profunda.

O filme foi indicado ao Oscar 2021 na categoria de “melhor roteiro adaptado”. Está na Amazon Prime. Depois de assistir, recomendo que você pesquise um pouco sobre a vida de cada um dos quatro. É muito interessante.

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