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domingo, 5 de abril de 2015

O valor da notícia

Um ataque terrorista matou 12 franceses no início do ano, em Paris.
Chefes de Estado do mundo todo se pronunciaram repudiando o ato. Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, se pronunciou no mesmo dia condenando o ataque contra a Charlie Hebdo. A imprensa do mundo todo cumpriu seu papel e informou quem, quando, onde, como e porque.

Dias depois, milhões de europeus estavam mobilizados nas ruas da Cidade Luz pedindo justiça e paz.

Tá certo! Não dá para admitir a banalização da vida!

Na semana seguinte, um ataque do Boko Haram deixou 2 mil mortos na cidade de Baga, na Nigéria.

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Onde fica Baga?
O que é Boko Haram?

Um avião com destino à Alemanha caiu nos Alpes franceses deixando todas as 150 pessoas a bordo mortas.
Em questão de horas, jornalistas de todas as partes do mundo estavam em Meolans-Revel, o vilarejo remoto no sul da França onde o avião caiu, para ter acesso direto às informações e fazer a cobertura do caso da forma mais completa possível.

Falem com os moradores!
Procurem as famílias!
Acompanhem a rotina dos peritos!

Tá certo! Foi uma tragédia. Acidentes aéreos causam comoção geral e é preciso investigar as causas.

Na semana seguinte, um ataque do al-Shabaab em uma universidade de Nairóbi deixou 148 pessoas mortas – de acordo com números oficiais. 
Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, mandou seu porta-voz dizer: espera que a situação seja resolvida sem maiores danos.
O grupo que assume os ataque garante que matou mais de 200 pessoas – alguns corpos, por algum motivo, não estão sendo contabilizados na contagem oficial. É
 isso?

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Não sei. Não vi nenhum jornalista embarcando pro Quênia para ter acesso direto às informações. Nem conversando com as famílias. Nem com os moradores da cidade. Nem com ninguém.

É tudo uma questão de valor-notícia.

É tudo uma questão de valor-pessoa.


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