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terça-feira, 8 de dezembro de 2020

A culpa que inventaram pra mãe

 Na semana passada eu consegui sair pra correr todos os dias. A rede de apoio segurou a onda com MM enquanto eu tentava alinhar os pensamentos (e, de quebra, queimar calorias) correndo. 

Correr é uma das minhas válvulas de escape. E eu estava sem essa atividade desde a descoberta da gestação. Então, voltar a correr foi tipo um reencontro comigo mesma. 


“Olá, Carol de dois anos atrás! Seu condicionamento mudou, hein?! Bom, MUITA coisa mudou! Mas, que bom que você voltou!”

Estou correndo metade do que corria antes de atravessar o portal da maternidade. E já me faz muito bem! Correr é o meu remédio.

Há alguns meses venho observando os ciclos pelos quais eu e meu organismo passamos.

Sim, mulheres! Não somos estáveis, nosso aparelho reprodutor (pra citar um exemplo) funciona em ciclos e é muito importante conhecermos esse caminho. 

A sociedade ocidental, fundamentada no patriarcado, superestimou a estabilidade, nos classificou de histéricas, queimou “bruxas” e, até hoje, desqualifica nossa fala baseada nesses argumentos. O famoso “está naqueles dias”.

Sim, há semanas que estou mais sensível, mais à flor da pele, mais introspectiva – o que é ótimo para exercícios de acolhimento e de empatia. Em outras semanas, estou mais produtiva, mais resiliente, “sangue no olho”... é quando os desafios, por maiores que sejam, só servem pra me animar. Entendi que é uma ótima semana para iniciar projetos, por exemplo.

E há os dias em que o pavio está mais curto, a irritabilidade é mais presente e o exercício necessário é o da paciência. 

Nenhuma dessas fases me define. Todas elas me compõem.

Eu mapeei meu ciclo e o desafio era encontrar algo que me ajudasse no período que considero mais denso, o da irritação.

Achei: a corrida!

Correndo todos os dias, essa fase passou quase despercebida. A endorfina liberada é uma ótima aliada, no meu caso.

Ela só não funciona pra culpa.

Correr me faz muito bem. E é importante estar bem - porque eu mereço e porque, assim consigo ser minha melhor versão, inclusive como mãe. Mas, essa chatíssima culpa fica aqui apontando o dedo na minha cara, me julgando pelos 50 minutos diários que tirei pra mim, sem MM. 

Conclusão: esse modelo ocidental desenhando pra aprisionar as mulheres é de fato muito eficiente. Individualiza as responsabilidades, mata o senso de rede, de coletividade, de interdependência. O oposto do que vemos nas culturas matriarcais de África... 

“É preciso morrer pro Ocidente”. A conclusão é do filósofo Molefi Kete Asante, e ressoa por aqui. Assunto pro próximo post...

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