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segunda-feira, 1 de junho de 2015

Lado B

A paisagem bonita com filtro que realça as cores do céu.

A selfie marota na balada de sexta-feira.

A viagem de férias.

A sobremesa gourmet com calda de chocolate escorrendo pelas bordas.

Tudo isso é lado A.

É o popular. O legal. O que as pessoas querem ver.

O hit que bombava nas rádios sempre estava no lado A do vinil - ou das fitas K7 (minha prima de 17 anos não sabe o que é uma fita K7. Estou oficialmente velha ultrapassada).

O lado A é o lado dos hits. O que todo mundo ouve. O que agrada a maioria das pessoas. O "sucessão".

No lado B, a banda gravava as músicas que, geralmente, não eram unanimidade. Aquelas que não são pop, apesar de dizerem muito sobre a personalidade dos músicos. 

Às vezes são tristes. Às vezes são melancólicas. Às vezes são contestadoras. Às vezes são tristes, melancólicas e contestadoras. E, mesmo assim, bonitas!

" Help" é lado A.

"All together now" é lado B.

"Pais e filhos" é lado A.

"Eu era um lobisomem juvenil" é lado B.

Lado B é aquele seu momento "meio puto meio reflexivo" antes de prestar atenção no céu de cores bonitas que podem render uma boa foto no Instagram.

É aquela "bad vibe ressaqueada" que você sente no sábado meio-dia, depois que acorda da balada de sexta, mas que ninguém no Instagram vai ficar sabendo porque não renderia muitas curtidas.

É a crise de culpa que você tem depois de subir na balança e perceber a merda que deu comer aquela sobremesa maravilhosa com chocolate transbordando durante o último mês.

Mas, né? Vai tirar foto da celulite e jogar nas redes sociais?

Nunca! Lado B. Ou melhor, lado C!

Lado B é aquele choro sentido de saudade, escondido pela linda paisagem.

É aquele desespero de saber que seu pai perdeu o irmão caçula e você não consegue correr para abraçá-lo porque está há umas 22 horas "voando" de distância.

É lidar com pessoas que acham que, no mundo, terá sempre alguém para servi-las. E que tudo bem entupir a pia, ou explodir o microondas, ou deixar essa meleca no chão -  alguém vai dar um jeito nisso na segunda-feira.

Por que jogar comida dentro da pia, gente?????

Mas, você vai postar o hostel nojento? A fronha manchada do rímel que escorreu na sua crise de choro? 

Claro que não! Melhor postar o Opera House iluminado pro Vivid Festival!



Quase um carro alegórico da Mangueira


Mesmo com pouquíssimas pessoas ouvindo, o lado B sempre esteve lá! Nos shows, tocava uma ou duas músicas, e só quem era fã cantava junto.

Quem era fã, muita vezes até preferia o lado B.

Ele é mais genuíno. Mais revelador. Mais subjetivo. Por mais que não seja tão agradável.

O lado B vai estar sempre ali e diz tanto sobre a gente quanto o lado A. Por mais que não seja bonito, é nosso. Faz parte. Compõe.

A saudade é minha! A dor é minha! A celulite é minha! A vontade de sair correndo ao se deparar com uma montanha de lixo na cozinha é minha! E diz muito sobre quem eu sou.

Lidar com o lado B também diz muito sobre quem eu penso em ser.

...

No último show de Brasília, Paul McCartney abriu com "All together now". E não tocou "Help".

Com o tempo, a gente assume o lado B porque aprende a gostar dele. Porque percebe que ele é o que realmente é. O lado A é o que parece ser.

É o lado B que faz o A ter sentido.

"Eu era um lobisomem juvenil" é minha música preferida da Legião Urbana.

Lado B.

"Parecer" cansa. É mais fácil "ser". 

Viva o lado B!

3 comentários:

  1. Identifico-me.
    Como eu queria gritar um pouco do meu lado B. Não silenciosamente... Mas gritar gritado.

    P.s: Saudades.

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    Respostas
    1. Estou sempre pronta para ouvir seus gritos lado B. Disponha!

      PS: Saudades!

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