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terça-feira, 3 de março de 2020

Pobre travesseiro

Acordei com dor no pescoço e nos braços. Não daquelas costumeiras, de dias e dias corridos e tensos e cheios de sobrecargas. Era consequência da sequência de socos que eu dei no travesseiro na noite anterior.

Não sei quantos foram. Não contei. Foram os necessários.

Antes do travesseiro eu tentei a parede.

Mas, talvez eu quebrasse o punho.

Era muita raiva.

De quê?

De tanta coisa... De gente. De situações. De não conseguir sair dessas situações...

Virou físico. A raiva era palpável. Eu precisava me livrar dela. Chorar já não adiantava mais.

Aliás, eu sentia raiva até de tanto chorar.

Os socos ajudaram por alguns minutos. Foi cansativo. Os socos e todo o processo que me levou até eles.

De onde vinha?

Como parei nesse lugar?

Levou um tempo - semanas - até eu entender. A raiva era de mim.

De me trair. De me desrespeitar. De me ferir. De não manter o combinado que fiz comigo mesma.

De ignorar a voz que fala quando a mente silencia. 

E por que faço isso?

Por que acumulamos tanto? Por que carregamos tanto? Por que naturalizar essas dores - as nossas, as das nossas mães, avós e acenstrais?

Tem que parar. Em alguém isso tem que parar.

Que seja aqui! 

O processo é dolorido. Pra se livrar do que pesa, machuca e sufoca tem que reconher os pesos, os machucados, o sufocamento. 

Nada disso é confortável.

E muitas vezes nos perdemos nesse redemoinho.

Para, soca o travesseiro e se reacomoda. Olha pra tudo de novo. Sente tudo com honestidade. Acolha-se. E siga.

Um mantra.

Estou na fase do "olhar tudo de novo".

As etapas se interpolam, os caminhos se cruzam e às vezes voltamos pro ponto de partida. O importante é ter o mapa no bolso pra dar uma olhada quando estiver muito perdida.

Qual é o seu mapa?

Recomeçar.

Primeiro por dentro. Depois coloca a bagunça do lado de fora em ordem.

E compra uma luva de boxe.





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