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quinta-feira, 19 de março de 2020

Home office, lego e fraldas - episódio 1

Eu decidi que faria jornalismo porque queria ser roteirista de HQ. E, nos devaneios juvenis, imaginava que era uma profissão que me permitiria trabalhar de casa. Um computador, uma ideia e pronto! Sem escritório, sem paredes, sem horário fixo.

Bom, o jornalismo venceu a HQ e os fatos exigem que a gente os acompanhe onde eles estiverem. Então, home office nunca rolou.

Até ontem.

Circunstâncias completamente diferentes das lá atrás imaginadas concretizaram o home office.

O coronavírus nos trancou em casa e a rotina deu uma guinada.

Começou com as creches - fechadas. Bebê sem ter com quem ficar.

Surto #1.

Cancelamento de eventos, de shows, de aglomerações. Bibliotecas, museus, academias fechados.

Evitem circular.

Quem puder, fique em casa.

Surto #2.

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Estamos em casa. Eu, o bebê, os legos, as fraldas, o álcool em gel, o wi-fi, os celulares, os grupos de Whatsapp que não param, a checagem de e-mail, a louça crescendo na pia, o "não pode brincar aqui, filho, mamãe tá trabalhando", a roupa de molho no balde, o soro fisiológico, a lista de supermercado, a cama desarrumada, a xícara de café ao lado dos pratos de papinha sujos... o dia que parece não acabar.

No nosso primeiro dia de home office, MM não dormiu. Jornada de 7h30 às 20h30. Com algumas crises no caminho, um incisivo rasgando a gengiva, a curiosidade peculiar, o treino dos passos cambaleantes, o "mamá", a inocência bonita de quem não faz ideia do caos. E a impaciência de quem não faz ideia do caos - e quer tudo AGORA.

Nesse primeiro dia não coloquei a cara na rua. "Isolamento social é isso", tento me consolar. Mas, a memória mais recente é a daquele puerpério inicial - quem viveu, sabe.

Subiu um frio na espinha.

Trabalhar em casa é trabalhar o tempo todo, mesmo quando não está trabalhando, e ter a sensação de que deixou coisas por fazer. Quem tem dupla (tripla) jornada, sabe. Só que, em isolamento a gente nem tira o pijama, nem troca ideia com os colegas, nem pensa mal do cara que pega o elevador pra subir do térreo pra sobreloja. Não tem esse tipo de passatempo.

Desgastante. Ainda mais pela indefinição. O que mais vai fechar? Quanto tempo vai durar?

Junto com a rotina, é preciso rearranjar os hábitos, a mente, a firmeza de espírito.

Teste de coletividade.

Tomara que a gente passe.

E que a pandemia também. Que passe.















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