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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O choro (da mãe) é livre?

É complicado ser “o mundo” de alguém.

MM já tem quase dois anos, nossa relação simbiótica aos poucos vai se “desafazendo”. Ele já sabe que existe muita vida além da mamãe. Mas, como somos eu e ele na maior parte do tempo, quando o bicho pega, não tem pra onde correr: é a mamãe mesmo.

Uma das coisas que mais me assustava antes de ser mãe era isso. Como eu, com a cabeça cheia de problemas, poderia ser margem para alguém? Eu, lidando com questões internas profundas e doloridas, um dia estaria pronta para ser amparo de um filho?

Fiz essa reflexão algumas vezes quando pensava em maternidade – muito antes da chegada de MM.

Não me tornei uma pessoa “sem problemas” porque virei mãe. E era assim que via a minha mãe quando era criança – uma pessoa super bem resolvida. Sinal de que ela disfarçava bem.

Eu não consigo disfarçar. Tem dias que não dá. Hoje é um dia desses. A carga pesa, o corpo doí, a cabeça dói, você só queria um tempinho para se refazer.

Não dá.

A cria te necessita. Te chama a todo momento. Tanto e tão repetidamente que a dor de cabeça começa a latejar.

E aí? Faz como?

Eu choro. Mais que MM.

Aliás, acredito que ele vai crescer sabendo que a mãe chora pra caramba.

Somos eu e ele. Não dá pra me esconder pra chorar. Nem pra esperar ele dormir, ou sei lá. É desague. É isso ou enfartar – pelo menos o aperto no peito traz essa sensação.

Tem momentos que choramos os dois juntos. Ele de sono, cansaço, gengiva coçando, necessidade de colo... Eu, de sono, cansaço, necessidade de colo (dependendo do dia, a gengiva também incomoda pois que ainda estou em batalha com os sisos).

A conclusão é que a gente cresce, mas, emocionalmente, amadurece muito pouco. Eu mesma, até hoje não sei lidar com essas mesmas sensações que provocam choro em MM. É por isso que eu deixo ele chorar. Porque eu também não sei lidar de outra forma.

Até sei. Mas, cansei de fingir ser forte.

Diziam que a gente tinha que engolir o choro. Que “aquilo” “não era motivo pra choro”.

A gente cresce engolindo dores. Mas, elas vão pra algum lugar. Refletem na nossa forma de se relacionar, de amar, de se permitir ser amada. Uma hora, a comporta estoura.

Deixem o choro ser livre.

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