Páginas

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Pieces of Woman

 

A minha prioridade por aqui é comentar obras afrocentradas. Não é o caso de “Pieces of Woman”, um filme americano, com produção de Martin Scorsese, assinado por roteirista e diretor húngaros, filmado no Canadá. Mas, uma trama que aborda a perda perinatal e se arrisca no terreno do parto humanizado domiciliar, vale a exceção.

Eu chorei no trailer – e pensei duas vezes antes de adicionar o filme na minha lista. Como o esperado, impossível conter as lágrimas ao longo das duas horas de uma trama que te envolvente profundamente – principalmente se for mãe.

Somos apresentados à Martha e Sean quando o casal está nas semanas finais da gestação – e toda a expectativa que isso gera. Depois, somos testemunhas oculares do parto domiciliar de Martha: quase meia hora de ansiedade, bolsa rompendo, dor, contração, a frustração ao saber que a enfermeira que acompanhou o pré-natal não vai chegar a tempo... a força da mãe que quer parir, o medo e o esforço do pai que quer apoiar. Quem pariu vive um flashback. Quem pariu em casa com certeza vai apontar problemas na cena. E profissionais de saúde que dão assistência a esse tipo de parto também  (aqui recomendo post que a @humanizapartos fez sobre o filme e ajuda a desmistificar o parto domiciliar).

Quando a angústia do parto acaba, breves minutos de pura ocitocina e contemplação – até que a neném para de respirar e a gente também prende a respiração.

Sabe aquele bagunça que vira a vida nos três primeiros meses do seu bebê  A bagunça hormonal, o peito cheio de leite, os 20 dias de sangramento, a desconexão com parceiro (quando há parceiro) Imagina tudo isso sem o bebê. Imagina tudo isso em meio a autopsia, funeral, culpa... o luto perinatal.

Mergulhar nesse universo durante 60 minutos revela um pouco da dimensão do que essas mulheres, essas famílias enfrentam. A insistência por uma reação, a gana de encontrar um culpado pra ver se alivia a dor... muitos casais não resistem – compreensivelmente.

Tem cenas que destroem a gente. E interpretações belíssimas. Terminei o filme aos prantos. Com vontade de abraçar cada mãe que viveuvive essa dor. Com vontade de agarrar MM e não deixar ele sair dos meus braços nunca mais.


Nenhum comentário:

Postar um comentário