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quinta-feira, 14 de maio de 2015

Episódio 1: Sem lenço, porém com documento - Parte II


Eram 36 quilos de roupas, sapatos, cremes, maquiagem (maquigem!!!!!), perfume, remédios, relógios - enfim, a vida - perdidos em algum dos três aeroportos pelos os quais eu passei antes de chegar em Sydney.

Duas malas. Uma eu nem paguei ainda.

Na primeira viagem que eu fiz para fora do Brasil, ficar sem mala era a minha maior preocupação. E a minha mochila foi a primeira a aparecer na esteira. Desde então, na minha lista de "coisas que podem dar errado", o último item era "ficar sem bagagem".

"Elas sempre chegam"

Ouvia histórias de amigos que tiveram as malas extraviadas, de gente que perdeu compras inteiras feitas em Miami, de mala que chegava violada. Lia notinha no site do TJDF (isso é plantão de fim de semana na redação, meus amigos) de passageiros que ganhavam indenização por danos morais das companhias aéreas... Eu sabia que era uma realidade.
Mas, confiava no anjo das malas.

...

Na fila de reclamações de bagagens perdidas, eu e outro brasileiro. O rapaz estava na minha frente. A atendete pegou os dados dele, digitou alguma coisa no computador e rapidamente informou que as malas estavam em Santiago (Chile) - nossa última escala - e chegariam no dia seguinte. Anotou o endereço dele, pediu desculpas, e afirmou que a mochila seria entregue onde ele estivesse.

Bom, dos males o menor. Amanhã tudo estará resolvido - pensou Carolina, tomada pelo torpor do jet lag.

Pronto. Minha vez. A atendente repete o procedimento. Pega meus dados, digita no computador, e eu já estava procurando meu novo endereço para preencher a ficha que ela iria me dar para entregar minhas malas no dia seguinte...

- Sua bagagem não foi localizada.

- Sorry, what?

- Não sabemos onde estão suas malas. Vamos te dar esse cartão para despesas emergenciais e esse kit com pijama e escova de dente para você passar a noite. Ligue neste número amanhã para atualizar as informações.

Olha, eu ainda não consigo fazer barraco em inglês. E nem tinha forças para isso depois de 32 horas de viagem, 22 delas voando. Talvez a atendente tenha percebido minha cara de "fodeu!", porque ela me deu um olhar piedoso junto com o cartão, dizendo que iria ficar tudo bem.

- We will find it!

Eu escolhi acreditar. E comecei a rezar também. E a avisar a todo mundo que também reza, porque eu precisava de ajuda divina.

Anjo das malas, cadê você?

...

O transfer que eu achei no Facebook não era sequestrador. Esperou eu acertar toda a burocracia das malas - o que atrasou em quase uma hora o combinado para o nosso encontro em frente ao Mc Donalds - me ajudou a comprar um chip pro celular e também segurou a minha mão quando a ficha começou a cair.

Eu não tenho uma calcinha! Eu não tenho nem toalha pra tomar banho! Meu Deus, eu vou ter que voltar pro Brasil amanhã!

Preciso fazer um aparte para mandar um beijo pra Tassiane e pro Welson, o casal transfer brasileiro que não me sequestrou e ainda me deu a maior força com pensamentos positivos, além de dicas e suporte emocional. Muito obrigada!


Elizabeth Bay Rd - a rua do hostel
Pronto. Cheguei na minha nova casa. Sem malas.

Semanas antes, o pessoal do hostel tinha enviado um email com todas as informações: chegue e entre; seu quarto - o número seis - vai estar destrancado e a chave em cima da cama; não precisa fazer check in; qualquer problema, ligue em um desses um milhão de números.

Cheguei. Entrei. Quarto seis. Porta destrancada. Luz apagada.

Uai, tem um par de botas ali no canto. Devo ter entrado no quarto errado.

Volta. Começa de novo.

Quarto seis.

Ok, é esse aqui mesmo. Vai ver alguém esqueceu as botas, sei lá. Vou entrar de novo e ascender a luz para checar se...

Mil roupas no chão, mala aberta, secador de cabelo em cima da cama. E o par de botas, ali no canto.

Fato: alguém, que chegou com malas, está hospedado no quarto seis.

Será que tem outro quarto seis? Será que na Austrália seis não é seis? Será que além de sem malas eu também sou sem teto em Sydney?




3 comentários:

  1. Carol, estou amando acompanhar suas aventuras. Boa sorte, que suas malas sejam achadas e sua temporada ai na Austrália seja maravilhosa!

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