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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Episódio 2: Com a roupa do embarque

Eu chego no hostel e tem um quarto lindo e cheiroso esperando por mim! Uma cama fofa e aconchegante, com um jogo de toalhas limpinho em cima da cama. Além disso, tem um serviço de emergência para hóspedes que têm as malas extraviadas: eles oferecem roupa limpa para passar a noite e leite quente com chocolate para confortar o coração.

Quem me informa isso é um brasileiro, com sotaque pernambucano, que chegou uma semana antes de mim. Disposto a ajudar, ele me mostra a vizinhança e os lugares com comida boa e barata.

True or false?

Vou nem responder

...

Como tinha alguém no quarto seis - que sim, era individual - agradeci a Deus por já ter um chip de celular e liguei para o número de emergência do hostel, já que não vi nenhum ser humano pelas redondezas.

Procuro loucamente alguma ajuda na estante de "vocabulário de inglês para reclamações", mas não tem quase nada. Só acho "shit".


Nunca, nas 238 mil horas-aula de inglês que eu fiz (somando Ensino Médio, cursinho, espisódios de Friends sem legenda e letras dos Beatles no Vagalume) eu tive lições sobre "como reivindicar um quarto quente e um pernambucano simpático em caso de desespero". Fica a dica para os professores de inglês.

Felizmente, quem atendeu a minha ligação percebeu o meu tom de "eu não sei mais o que fazer" e... falava português! Pronto, reclamar em português eu sei! Aliás, é uma das minhas especialidades.

Mas, nem foi preciso. Super atenciosa, a moça estranhou o problema, pediu cinco minutos e retornou a ligação com a solução.

- Você está no quarto 13!

Azar ou sorte?

Não tinha toalha limpa, nem chocolate quente - muito menos pernambucano. Mas, tinha cama fofa e manager do hostel para me levar ao supermercado. 

Compra toalha, compra calcinha, compra sabonete e, se vira como pode.

Depois de um sábado bem agitado, vesti meu pijama da Qantas e agradeci por, depois de duas noites dormindo sentada, poder esticar a coluna. Não sem antes bater um longo papo com o anjo das malas.

...

No domingo, primeira manhã em Sydney, o anjo da mala não mandou nenhuma novidade sobre o paradeiro das bagagens. Mas, mandou uma ajuda gigantesca em forma de amiga!

Engana-se quem acha que fazer estágio durante a faculdade serve apenas para ter experiência no curriculum e conseguir grana para ir aos churrascos universitários. Nos estágios você também pode conhecer pessoas que vão te salvar se você estiver sem roupa em Sydney!

Ela me ensinou a pegar o trem, me levou para comprar roupa barata, para fazer o "bilhete unico do metrô", para almoçar, para ver o Pacífico, para comprar comida no supermercado barato, para comprar shampoo na farmácia, para ganhar yogurt e Red Bull de graça no meio da rua... praticamente uma aula de "como sobreviver em Sydney"!

E vocês aí, duvidando dos anjos!



Turistando com a roupa do embarque


E o melhor de tudo foi esquecer por todas aquelas horas o meu singelo problema da falta de malas.

O fato é que eu decidi fazer essa viagem para dar um tempo de tudo e analisar se estava direcionando a vida por caminhos que realmente me interessavam - ou se estava simplesmente sendo levada pela inércia.

Deixei meu emprego, deixei meus pais, minhas cachorras, meus amigos, minha cama quente e minhas roupas limpas para ver como eu me sairia em outras circunstâncias, em outro ambiente, em outro fuso.

Quer ver como se sai? Então, se vira! E só com a roupa do corpo!

E desapega!

Não é suave sair da inércia - eu lembro de algumas coisas da aula de Física. É confortável andar por ruas conhecidas, vestir o jeans que já tem a forma do seu corpo, falar e ser compreendida, ouvir e compreender.

Mas, depender do GoogleMaps, usar uma calça meio curta, comprada com o cartão de emergência da cia aérea, pensar 15 vezes antes de formular uma frase simples e se esforçar para não perder nenhuma palavra do que o caixa do banco está falando, mantém a gente alerta. Desperta. Liberta.


E, como diria Lenine, isso é só o começo!

(Quem não conhece, procura essa música. É muito boa.)

Preciso mandar um beijo para Mônica Plaza, que está me ajudando em tantas coisas, mesmo antes de eu sair do Brasil. Esse tal de jornalismo dá uns frutos muito bons! 

Um salve para os estágios universitários! E para o Uptoyou, fruto do jornalismo da Mônica, que dá dicas e tem histórias excelentes!





6 comentários:

  1. Caroooooools, que massa! Moça corajosa! Quanto tempo vai ficar por ai? Depende das malas? :P Vão chegar loguin, certeza! Tudo de bom garota, beijão! ;)

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    1. Xarááááá!! Que alegria ter notícias suas!!! Fico aqui até outubro! Qnd eu voltar vc estará formada??? Eu tô looonge disso!! Hahahaha
      Beijo! Saudades!

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